Opinión

Todo é política, a morte também

Dizem que nom é política, que se trata de acidentes, assassinatos, enfermidades mentais... Mas eu, sanitária, nom podo luitar contra o devir biológico sem política. 


Neste Dia da Pátria em vez de festejos houvo umha chuiva de imagens de corpos humanos. Os cadáveres apilhados e contam-se por dezenas. É a efemeridade dumha mesma como sujeito. Dim que estremece.

As que trabalhamos num médio hospitalário negociamos com a morte cada dia nos nossos empregos. Lutamos dia a dia contra as dezenas de mortas que deixam os recortes em prevençom de violência de género; cadáveres suicidas de desfiuzamentos; convivemos com as moreias de corpos esmagados entre ferros de estradas em mal estado ausentes de 'noitebus'; Reais Decretos que se traduzem em finitudes corpóreas. Letalidade de comboios. Corpos mortos que som demasiado raros para serem investigados com fundos públicos... E seguem-se apilhando entes que ninguém vê. Esquecimento. Vocaçons reconvertidas na Santa Companha.

Sinto nom pôr gravatas negras, sinto nom botar bagulhas televisadas, sinto nom colocar estados de facebook solenes. Havedes-me de perdoar mas estou devorada polos cadáveres de cada dia.

Dizem que nom é política, que se trata de acidentes, assassinatos, enfermidades mentais... Mas eu, sanitária, nom podo luitar contra o devir biológico sem política. 

A televisom encarrega de alimentar o mito. De que 'as minhas maos salvam vidas'. Mas isto nom é 'Los vigilantes de la playa' por muitas cámaras de tv que enfoquem. Na vida real, no SERGAS, as minhas maos nom fazem nada se há unidades de cuidados de críticos pechadas, se nom há suficientes equipas para transfundir, se se precintam quirófanos e se vaziam andares de hospitalizaçom, se se deixam residentes de primeiro ano a cargo de politraumatismos para aforrar gasto, se nom suplem férias...

Que a capital dum país no seu dia grande nom tenha um plam de catástrofes profissional é política. Que se sobreviva devido a solidariedade da vizinhança é próprio de sujeitos políticos. As minhas maos divinizadas nom podem fazer nada sem política. Porque todo é política. A morte também.

Comentarios