Opinión

Crônica dum assassinato anunciado

Mais umha, mais umha, mais umha, mais umha, mais umha, mais umha, mais umha, mais umha...


Mais umha, mais umha, mais umha, mais umha, mais umha, mais umha, mais umha, mais umha, mais umha, mais umha, mais umha... assim até onze. [1]

Ou cecais deva dizir menos umha, menos umha, menos umha, menos umha, menos umha, menos umha... assim até -11?

A história do nosso massacre começa com um teletipo e um conselho de redacçom a decidir que dita nova nom vende. O feminicidio disque nom é 'trending topic' polo que os cadáveres som confinados às páginas de “sucesos” ou de 'tendencias'. [2]

A Igreja Católica festeja com champagne por matarem umha mulher [3] que se negou a ser Eva.

O PP observa como as suas políticas públicas vam 'por el buen camino'.

E o resto da sociedade enmudece de súpeto:

Os partidos que se consideram feministas sacam do caixom o rascunho das condolências. E eu pergunto-me quando o nosso exterminio será o primeiro ponto da orde do dia das suas 'assambleias horizontais'.

Os sindicatos fecham a boca. Será que as mulheres sem vida nom podemos optar a melhoras laborais.

Os respetivos colégios profissionais da saúde ficam calados. Deve ser que quando és asssassinada nom precisas já atençom sanitária.

Os colégios de advocacia nom dim rem. Será que o direito a vida nom vai coa sua profesión.

A comunidade educativa tampouco se escoita por ningures. Será que transmitir os valores de igualdade non se ensina en livros de texto.

A epidemiologia nom estuda. Deve ser demasiado dura a hipótese alternativa de que ser mulher1 no século XXI é um dos principais factores de risco cara a morbimortalidade.

As associaçons da língua paradogicamente nom usam a língua para denunciarem, suponho que até que vejam que nom ficam mulheres coas que falar.

As associaçons vizinhais parecem nom se dar conta que neste bairro as vizinhas desaparecem. Pensarám que nos mudamos para bairros residenciais com bonitos jardins.

As associaçons de música tradicional parecem que nom lem os jornais. Cecais até que nom quedem mulheres com as que poder repenicar.

E assim sucessivamente, até que se fai o... (shhh!)

SILÊNCIO  
(que nos extermina)


Só umhas poucas, quando nos atrevemos a levantar a voz, a cantaruxar detrás dumha faixa, a dizer do que  nom gostamos. Só entom se rompe o silêncio, e a psiquiatra que tod@s levamos dentro nos diagnostica como 'transtornadas', 'obsesionadas', 'histéricas'. É nesse precisso intre no que se volta a pôr o contador a zero, e começa a conta atrás para um novo assassinato.

Até aqui o ritual.

Eu, às vezes, canso de cantaruxar detrás de faixas.
Eu, às vezes, só às vezes, pergunto-me de que vale umha Galiza soberana se nom temos nem a soberania dos nossos corpos?

[NOTA: este escrito está inspirado numha conversa de umha segunda feira qualquera, no que umha mulher sacou tempo para me lamber as feridas da opressom. Namentras exista a sororidade sobreviviremos... até que nos assassinem]

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1. Onze  mulheres forom assassinadas no estado español desde começos do 2014. Dúas dessas mulheres eram da Galiza.
2. Nom é umha metáfora. Na ediçom de El Correo Gallego do dia 3/02/14 umha nova denunciando abusos sexuais foi encaixada na secçom 'tendencias'.
3.Mulher refirida como sujeito estratégico, sem animo de afondar nos binarismos hegemonizantes.

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