A Academia das Ciências de Lisboa revê o Acordo Ortográfico do português

Artur Anselmo, presidente da Academia das Ciências de Lisboa, anunciou para janeiro a publicação do documento ‘Subsídios para o Aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico’. Retoma-se a polémica pelo lado científico, num campo onde "a política é incompetente". 

Assembleia da República
photo_camera A Assembleia da República votou o AO em 2008

O presidente da Academia das Ciências de Lisboa, Artur Anselmo, anunciou para o próximo janeiro um documento com o nome de ‘Subsídios para o Aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico’. Trata de uma proposta de revisão do acordo ortográfico de 1990 baixo o prisma da ciência, em detrimento da política. Anselmo afirmou em declarações ao jornal português Público que o acordo “é um problema científico por mais que nós possamos negociar com forças políticas, sociais, sindicais, na base está a ciência”.

Desde a Academia das Ciências de Lisboa estão a trabalhar no projeto. “Nós vamos agora publicar em janeiro os ‘Subsídios para o Aperfeiçoamento do Acordo Ortográfico’. Estão prontos, foram feitos por uma equipa dirigida por Ana Salgado, na última reunião já tiveram um acordo de princípio, agora vão ao plenário de efetivos.”

Mas, por enquanto, o acordo ortográfico é um dilema sem resolver. Fazendo finca-pé no ensino, atualmente as normas estão-se misturando devido às grafias duplas, ao que o presidente acrescenta que “o acordo permite essas situações de dúvidas, sendo o órgão de consulta do governo em matéria linguística. A Academia foi consultada em 1990, mas não foi consultada quando um ministro resolveu pô-lo em vigor”.

A presidenta da Associação de Professores de Português (APP), Edviges Antunes Ferreira, afirmou em declarações a Público que aceita uma "revisão ligeira" do Acordo Ortográfico de 1990 "para não trazer tantos prejuízos, mas nunca anular o AO90". Relativamente ao regresso de algumas consoantes mudas, Edviges Ferreira diz: "nós não concordamos, é muito mais simples escrever conforme falamos do que estarem a perceber ou a decorar, principalmente depois de abolir e estar a escrever de uma determinada forma, estar a voltar atrás".

O conflito do Acordo Ortográfico

São várias as entidades e associação que não são afins à revisão do AO90. “Pela correspondência que recebo, tenho a sensação de que a Sociedade Portuguesa de Autores, o Pen Clube, a Associação Portuguesa de Escritores, todos estes representantes da escrita em Portugal estão a reagir. E contam-se pelos dedos os escritores que aceitam o chamado acordo ortográfico”, afirma Anselmo.

Segundo estimativa do Ministério da Educação brasileiro, as mudanças de palavras pelo AO90 apenas afetaram ao 0,8% dos vocábulos do Brasil e 1,3% dos de Portugal 

No que diz respeito ao que carrega o poder político, o presidente afirmou que “a academia vai fazer uma sugestão e depois vai aguardar ser chamada para participar em reuniões. Isto se o poder político estiver interessado em fazê-lo. Eu tenho a maior confiança no atual Presidente da República”, comentou. Ademais, insistiu na ideia de que “neste campo a política é incompetente, e por isso deve ter cuidado de não meter o nariz onde não é chamada. Aqui não é chamada”. 

Uma das causas da controvérsia do AO90 é o fim das consoantes mudas, presentes em várias palavras do português europeu, e que, com o acordo, prepondera a versão brasileira. Por exemplo, actor vira ator e óptimo > ótimo. Segundo estimativa do Ministério da Educação brasileiro, as mudanças apenas afetaram ao 0,8% dos vocábulos do Brasil e 1,3% dos de Portugal.

Oficialmente, o Acordo Ortográfico em Portugal está em vigor desde 2009. Apesar de ser assinado em 1990 pelos Estados de língua oficial portuguesa, o acordo necessita a ratificação de cada país para que entre definitivamente em vigor. Brasil, Portugal, São Tome e Príncipe e Cabo Verde já promulgaram a decisão. Angola e Moçambique ainda não têm data para ratificar.

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