O moçambicano Mia Couto vence no Prémio Camões

O escritor moçambicano Mia Couto, resultou ganhador do Prémio Camões, o mais importante da criação literária da língua portuguesa, escolhido pelo júri na segunda féria no Rio de Janeiro. Converte-se no quinto africano que ganha o prémio, já na sua 25 edição. 

Autor de livros como Cronicando, Raiz de Orvalho, Terra Sonâmbula e o recente A Confissão da Leoa, Mia Couto é uma das vozes mais singulares e populares da literatura em língua portuguesa, comprometido primeiro com a independência mas também com o futuro de Moçambique, assunto que está presente no se ideário literário e pessoal. Tanto é assim, que o escritor manifestou pouco depois de se saber a notícia, que o prémio era bom para contribuir a situar Moçambique no mapa, o que el tenta fazer na sua, a cada vez mais, frequente presença internacional.

Um dos membros do júri, o diretor do Jornal de Letras, José Carlos Vasconcelos, que levou Mia Couto à capa em múltiplas ocasiões, destacou a “inovação estilística e a profunda humanidade” da sua vasta obra ficcional, em declarações à agência Lusa, duma obra de mais de 30 títulos traduzidos a dezenas de línguas em 30 anos, a começar pelo inaugural Raiz de Orvalho. 

Mia Couto é o segundo autor de Moçambique que recebe o Camões, depois do poeta José Craveirinha que foi reconhecido em 1991. O galardão, inaugurado com Miguel Torga em 1989, alcança assim a sua 25 edição, com um dos escritores mais populares da actual literatura em língua portuguesa. 

Mia Couto fez parte desde novo do movimento pela independência de Moçambique do colonialismo português e desenvolveu uma trajetória como jornalista em publicações como A Tribuna, Tempo e Notícias ou a Agência de Informação de Moçambique (AIM), que ele próprio dirigiu. Raiz de Orvalho, o seu primeiro livro de poesia, nasce em 1983 para logo seguir com as crónicas de Vozes Anoitecidas e passar com Terra Sonâmbula ao romance, género em que Mia Couto acadaría um maior sucesso. A Confissão da Leoa (2012) é o seu título mais recente. 

Mulher negra

“Os intelectuais europeus olharam-no, ao conhecê-lo, com surpresa: era um jovem apesar de ter nome feminino (Mia), era um branco (cabelos louros, olhos claros) a pesar de ser africano”, escreve Fernando Dacosta no prefacio de Cronicando, para explicar a posição do escritor no mundo, que responde à própria origem do género humano, “desobedecer aos mapas e desinventar bússolas, sua vocação é a de desordenar paisagens”, diz o escritor. 

Na Galiza, Mia Couto participou ativamente no encontro das literaturas e a cultura da lusofonia Latim em pó. 

Mia Couto é o quinto da África em receber o Camões, quando Portugal e Brasil foram distinguidos dez vezes cada. Pepetela e José Luandino Vieira -que recusou o prémio- de Angola, José Craveirinha, de Moçambique e Arménnio Vieira de Cabo Verde, precederam Mia Couto no palmarés do prémio dotado com cem mil euros até sua 25 edição. O brasileiro Dalton Trevisan foi o ganhador em 2012. 

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