Opinión

Oh, Lalá, que familia tão original (I)

E tanto. O monarca francês, Luis XIV, aproveitou a vacante do trono espanhol para situar nele a um seu sobrinho, nascido e educado em França, que amparado por direitos hereditários, polo desígnio divino e afortalezado num importante exército, que sempre é muito importante para afiançar a graça de Deus, coa conivência de paifocos carpetovetónicos que adoitam estimar melhor o de fóra, entrou por Catalunya a sangre e fogo destruiu parte da cidade de Barcelona, masacrando seus habitantes e rematando por constituir-se em rei da Espanha com o nome de Felipe V Borbon; arrombou costumes, direitos, sistema político dos reinos e do povo ao que afogou economicamente para construir palácios num processo de afrancesamento da sociedade.

Depois de um brevíssimo Luis I, o “setemesino”, polo tempo de seu reinado, chegou Fernando VI, xenófobo e racista que ordenou a Grande Redada contra o povo gitano, afastando os homens de suas mulheres e filhos e destinando a uns ao trabalho forçado e outros à prisão, tentado extermina-lo. Morreu após um ano de tolemia. De Itália chegou Carlos III, que lembramos como o grande alcalde de Madrid, que sim foi, mas odiado polo povo pola carestia da vida, empobrecimento, corrupção, recorte de direitos e a tributação.

Inda que o dintel da desídia e desvergonha ficava muito alto, teve que chegar Carlos IV e seu filho Fernando VII para romper todos os limites imagináveis da incompetência, da avarícia e da deslealdade. Carlos IV, nascido em Itália e casado com sua prima Mª Luisa de Borbon-Parma, delegou inicialmente o governo em Floridablanca e depois entregou-o, também com a mulher, a Godoy, anos mais tarde destituído polo filho, Fernando, alzado contra o pai, e posteriormente reposto por ordem de Napoleon. A vida na Corte era puro puterio com uma rainha sexualmente desbocada e um rei caçador mas sem apetencias sexuais: a rainha em confissão declarou que nenhum dos onze filhos vivos era filho do rei. Polo tanto Fernando, herdeiro, já não seria da mesma rama borbónica ainda que sim seguiria sendo Borbon pola mai. Foi uma época de obscurantismo, reveses militares, miséria e perda de territórios, sempre como consequência de guerras, nunca por tratados de descolonização. Carlos abdica em Fernando que conspirou e se lhe enfrentou, mas Napoleão o obriga a recuperar a coroa, repor no top do governo a Godoy, exiliar-se na França (o prémio da sua traição à dinastia borbónica foi pago dos gastos, um palácio e uma finca de caça para entreter seu ócio) e conceder a Napoleão os direitos à sucessão na coroa de Espanha, que este transferiu ao seu irmão José Bonaparte. Morreu no exílio, em Nápoles; o filho Fernando esteve sempre convencido de que a esposa de Carlos, sua mai Mª Luisa, havia levado consigo as joias do Reino, tratando inutilmente de recupera-las.

Fernando VII, preso na França durante a Guerra da Independência, foi profundamente desejado polos espanhóis para contrapolo a José Bonaparte desconhecendo que em Baiona (França) este rei felón escrevia cartas a Napoleón felicitando-o polos seus êxitos e vitorias (das suas tropas em Espanha) e incluso mostrou seu desejo de que o imperador o adotasse como filho (existem documentos manuscritos). Foi o pior rei por incapaz, desleal e injusto. Reposto no trono, faltou palmariamente a todos os compromissos adquiridos para reinar, perseguindo todo atisbo de liberalismo, amparando-se na Inquisição, perdeu as poucas colônias que ainda havia, condenou a morte aos discrepantes, e no pessoal foi vingativo, cruel, taimado e cobarde; herdou da mai a incontinência sexual e recorria todos os bordéis de Madrid.

Convencidos os Borbon de que seu destino de rei era uma designação divina e seu concepto do reino patrimonial não precisavam expatriar sua fortuna, pois se construíam um palácio, uns jardins ou similar era para eles, não para o patrimônio nacional; de todos jeitos tinham patrimônio pessoal que provinha dos pingues ganhos que estes católicos monarcas obtinham do comercio dos escravos e Fernando VII também das comissões que recebeu da compra de barcos a Rusia para a guerra de Filipinas, médio podres e só servirem para desguace.

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