Opinión

Desinformação V. jornalismo veraz

Há poucos dias, com motivo de um Foro de esses que adoitam convocar empresas jornalísticas, um mediático jornalista, ex-diretor de um diário importante de difusão estatal e do que se rumorejava como recambio a dirigir a TVG (valha-me Deus), afirmava que os médios querem contar a verdade e que se não o fazem e porque lhe mentem. O entrevistado falava dos “médios”, sem referência aos jornalistas que, em definitiva, com muita frequência devem pregar-se á linha editorial do “medio” se querem conservar o emprego. Alem de que o jornalista ou o “medio” o primeiro que deve fazer com uma informação é verificar sua autenticidade e indagar sobre sua origem, há muitas formas de falsear uma notícia sem mentira aparente.

Nestes dias se entregaram os XXIII Prémios de Direitos Humanos dos Colégios de Advogados, a vários jornalistas e médios em reconhecimento do esforço para garantir a liberdade de expressão e de uma informação veraz, destacando como a desinformação é uma grave ameaça para a democracia e como os médios ficam obrigados a combatê-la e que só um jornalismo de qualidade, exercido com rigor por profissionais comprometidos com a verdade, pode acabar com a epidemia desinformativa que vulnera direitos e desorienta aos cidadãos.

Por simples curiosidade segui no seu dia as noticias de diversos médios sobre as aparentes dificuldades judiciais polas que passava Podemos e seus dirigentes, comprovando o destaque em portada  das noticias nas que se anunciava a apertura de procedimento judicial ou sua imputação fronte a inexistência, ou relegada a paginas interiores, da noticia de haver sido sobreseida ou arquivada a causa Refiro-me á macrocausa denominada Neurona, pola que se aperturam sete grandes linhas de investigação das que seis forom já arquivadas e fica pendente só uma parte da sétima para dilucidar se algum dos trabalhos contratados a Neurona foram realizados por Podemos. Do início da macrocausa temos notícias a partir de agosto do 2.020 por essa prensa de suposta seriedade como El Mundo, El Pais, ABC, La Razón e seguidores, que apocalipticamente levavam nas suas portadas notícias com destaque sobre o caso, e polas tertúlias televisivas; transcorrido mais de um ano de investigação policial e judicial, desestimadas todas as linhas de investigação e arquivado o procedimento, exceto no cumprimento total ou parcial de contrato por parte da empresa Neurona, desapareceram as notícias das portadas e incluso de páginas secundarias. Da falsidade dos denunciantes e do fiasco da UDEF e subsequente arquivo das denuncias, silencio ou noticia irrelevante em páginas interiores. O mesmo ocorreu com a causa seguida contra Podemos pola Fundación 25-M, também arquivada. E não digamos da polvoreda que levantou no 2.015 as supostas irregularidades da juíza Victoria Rosell e seu marido, quando aquela se apresentava nas listas de Podemos para as eleições gerais; lembro El Mundo a media portada com a notícia de que “la fiscalia investiga a la “juez estrella” de la lista de Podemos”, outra também de portada “La policia sigue el rastro del dinero pagado a la pareja de la juez de Podemos” e outras similares; pois bem o TS rematou condenando a seis anos e medio de cadea ao juiz Salvador Alba “por falsedad judicial, cohecho y falsedad en documento público por confabular contra la juez Victoria Rosell”, nada se dize em El Mundo nem no Pais, ABC nem na Razón.

E todos estes jornais anunciam que se reabriu outra causa contra Podemos e não informam que se trata de feitos polos que já foi arquivado judicialmente por ser anteriores no tempo a existência no Código penal do delito de que se acusa. Logicamente será de novo arquivada e do arquivo nada informará a prensa “seria” que disfrutamos.

E para qualquer dúvida aí estão as hemerotecas.

Algum motivo para a esperança ainda temos. O ano passado 16 médios uniram-se na Plataforma 16 Meios Independentes para realizar enquisas de opinião independentes, com micromecenazgo, desde um leal compromisso com seus leitores que se estende imediatamente á cidadania em geral, para conter este processo de desconfiança e deterioro das instituições públicas que dana gravemente a democracia. O resultado da enquisa não teve transcendência nem na prensa “seria” nem nas canles televisivas.

Esta é uma crítica á falta de transparecia e informação veraz por parte das empresas jornalísticas (há exceções), não aos jornalistas abnegados que sofrem a exploração empresarial e com parabéns a tanto jornalista que se joga a vida nas investigações que leva a cabo e nas que nem conta com o amparo da policia nem dos tribunais. Há poucos dias lemos, sem maior surpresa, como um jornalista italiano que descobriu um terrível erro judicial que manteve a um inocente durante mais de três anos encarcerado enfrenta-se a uma demanda por difamação presentada polo fiscal do caso.

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