Opinión

Carta aberta a Ana Pontón

Prezada Ana:

Meditei se comentar consigo, interrompendo tal vez o período de reflexão que te propuseste, e, de fazê-lo, se empregaria uma comunicação privada ou a medio de carta aberta; não pretendo molestar, pedo desculpas por imiscuir me nas tuas meditações e se o fago mediante carta aberta é porque também é pública a apertura pola tua parte de um período para reflexionar.

Não quisera interromper-te, mas, grande parte da minha vida militando nos ideais nacionalistas e mais da metade no soberanismo organizado, penso que me outorgam autorização suficiente para introduzir no teu tempo de reflexão opiniões que, inda que pessoais e sem representar a ninguém, sei que delas participa muita mais gente.

Eres inda muito nova e não viveste os primeiros anos de tímido renascimento do galeguismo, baixo a máscara de cultural primeiro e de rebeldia estudantil universitária depois, alá polos finais dos 50 e primeiros dos 60, em que os velhos galeguistas sentiam a alegria de que começasse-mos a achegar-nos gente mais nova; depois vieram as organizações, as manifestações, a propaganda, e convívios nos povos numa clandestinidade sempre vigilada por umas forças repressoras. Com frequentes sucessos de multas, perseguição, detenções e incluso assassinato, como no caso de Reboiras (tu andarias com os primeiros biberões). Comenzavamos a organizarmos como a propriedade rural galega, em minifúndios, com excisões, defeções e pessoalismos, que em nada ajudavam às pretensões de uma Galiza forte e de seu.

Por fim todos aqueles que apostávamos por uma Galiza soberana (daquela dizíamos claramente, sem eufemismos, independente) conseguimos aglutinar um grupo forte que se concretizou neste BNG que agora temos e do que tu eres a atual porta-voz. Não ficamos livres do grande problema da esquerda, já não do nacionalismo, as pequenas discrepâncias, o pessoalismo, as envejas, a deslealdade…, e aquele ilusionado grupo inicial apenas demorou em sofrer a primeira grande excisão que o reduziu a mínimos; outros dirigentes com seus escassos seguidores também forom buscando outros caminhos; curiosamente o BNG recobrou militância, excindidos, prestigio social, influença politica e votantes baixo o liderado de Beiras, que foi também quem, abandonada a portavocia, lhe pegou o golpe vital mais importante. E novamente os soberanistas, os que pensamos que Galiza só por sim mesma recobrará dignidade e liberdade e que nunca os de fora nos prestarem ajuda leal, ficamos na casa comum, mantendo ergueito o facho da nossa pessoalidade, reduzidos a um grupo extraparlamentar, e aqui já tu formas parte da historia e sabes algo mais que eu, simples militante de base. 

Comenzavamos a organizarmos como a propriedade rural galega, em minifúndios, com excisões, defeções e pessoalismos

Nos anos sucessivos vimos-nos ninguneados polos que buscavam alianças forâneas e seus aliados e como devecia nossa implantação na sociedade, com uma sangria de votos que não conseguiam cortar os diretivos de cada momento.

Para nos, os mais velhos, foi uma inesperada, longa, dramática e desoladora nova travessia do deserto, provavelmente a mais traumática das muitas que deixáramos atras. Resultava incompreensível que todo o esforço e ilusões de tempos anteriores, e quando nos topávamos no caminho da progressão e do reconhecimento na sociedade, voltáramos ás catacumbas. 

Foi duro, foi trabalhoso, foi bem organizado e dirigido, remontamos prejuízos e incompreensões, mas reavemos, recuperamos e superamos as altas quotas conseguidas anteriormente. E neste caminho andado, nesta recuperação, neste saber encontrar-nos de novo com a sociedade galega já estuveste tu, com a equipa que te acompanhou em cada ocasião.

Toda essa historia para que sejas consciente de que ficamos num momento ótimo e otimista, no que não houve movimentos subterrâneos nem ruido de confabulações e novas traições, centrados em petar na alma do povo (como diria Castelao) pola dignidade e recuperação de Galiza. Que não é tempo de mudanças. Eu não sei, Ana, se haverá alguém que poda ser o melhor porta-voz do BNG, mas o certo é que nesta altura a que demostrou ser a melhor eres tu e resulta indudável que na melhor medida que podes contribuir ao desenvolvimento do projeto é continuar no teu posto. Não sei se teu anúncio é um comunicado á militância ou um aviso a navegantes, se assim fosse e houvesse navegantes fago os direitamente destinatários de estas minhas reflexões.

Novamente pedo desculpas; cumplimentos de
Nemésio Barxa.

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