Opinión

Dupla oficialização do galego na UE?

Nesta secção raramente falamos do Parlamento Europeu, mas não posso deixar de o fazer para felicitar a eurodeputada Ana Miranda pelo seu discurso da semana passada na sessão de controlo de Pedro Sánchez como presidente em exercício do Conselho da União Europeia. Sem entrar no conteúdo do discurso, coerente com a sua visão política, gostaria de destacar o idioma em que foi proferido, que qualquer dos nossos leitores que o tenha ouvido facilmente reconhecerá como sendo o nosso.

No entanto, apesar do facto de ser supostamente não oficial no hemiciclo, nem a Presidência nem os tradutores levantaram qualquer objeção e a nossa deputada apresentou os seus argumentos sem qualquer problema. Isto já tinha acontecido antes com outros deputados galegos, se bem me lembro com José Posada, Camilo Nogueira e Lidia Senra, por isso podemos dizer que não foi uma novidade ou uma concessão da atual presidenta, porque ela vem de Malta, onde a questão linguística também está presente. Bastou indicar que a intervenção deveria ser feita na nossa língua, o português (ou galego-português, se preferirem), e fazê-lo utilizando uma linguagem correta para que tudo corresse bem, embora suponho que com alguma surpresa para o interpelado senhor Sánchez.

Por outras palavras, a nossa língua já é perfeitamente oficial. Também não creio que os utilizadores da documentação europeia, se tiverem algum interesse na língua, tenham qualquer problema em compreendê-la utilizando a versão internacional da nossa língua, que é a mesma que é utilizada por alguns dos colaboradores deste nosso jornal. Se não houver interesse pela língua, haverá alguma dúvida de que, mesmo sendo oficial a variante autonómica da língua, não recorrerão estes à versão espanhola dos documentos? Suponho que os responsáveis pelos orçamentos comunitários não compreenderão muito bem que, pelo facto de que uma pequena percentagem dos seus falantes terem a ocorrência de escrever ou falar a sua língua ao estilo espanhol, tenham de traduzir tudo para elas.

Não o fazem com a variante flamenga do neerlandês, nem penso que os catalães o permitiriam com as suas variantes valenciana ou menorquina se a sua língua se tornasse oficial, e isto que as diferenças com o catalão são maiores do que as do galego e do português segundo eu ouvi dizer há algum tempo a um filólogo valencianista. Também não creio que os autonomistas linguísticos galegos o admitissem de bom grado com o eonaviego escrito com a grafia asturiana.

Não estou a criticar a dupla oficialização da nossa língua por espanholismo, de feito não estou contra a oficialização do basco e do catalão, mas para defender a unidade da língua. Uma oficialização do galego autónomo conduziria a um facto consumado, dando, dentro e fora do país, a imagem de uma língua dividida, o que dificultaria a sua reintegração no futuro. Entendo que qualquer reintegracionista coerente e consciente das implicações da medida estaria de acordo com a posição aqui defendida.

Na minha opinião, dificultaria também os processos de normalização, pois entendo que as estratégias a este respeito não devem ser as mesmas numa língua minoritária em falantes e usos e numa língua minorizada no seu próprio território, mas plenamente normalizada e com um grande número de falantes no estrangeiro. Ou seja, o galês não deveria seguir a mesma estratégia que o espanhol em Porto Rico ou no Novo México, ou o bretão a do alemão no Tirol do Sul, pois isso conduz a políticas erradas e finalmente ao seu fracasso

Graças a Deus, o bom senso parece triunfar e, graças a muitos países europeus não temos a nossa língua dividida e enfraquecida, sem ganharmos nada em troca. Isto si que foi um bom agasalho de Natal.

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