Opinión

Repensar o nacionalismo no centenário das Irmandades

O centenário das Irmandades da Fala pode, e até deve, ser a desculpa idónea para visualizar a incidência que o nacionalismo teve ao longo deste século, não só em desenhar a Galiza como nação, mas também em defender os sinais de identidade que a caraterizam. A luta incessante na dignificação da nossa língua, pese os intentos de minimização a que reiteradamente foi e é submetida por diversos sectores sociais e políticos da própria Galiza, assim como os esforços por equiparar a nossa cultura com as culturas do resto do mundo, são ativos a considerar na valorização que devemos fazer do trabalho desenvolvido ao longo destes cem anos por homens e mulheres de origem e ideologias diversas, tendo a Galiza sempre como referente.

As Irmandades da Fala têm a originalidade de pensar a Galiza não só para a Galiza, mas no plano universal. Não como nação residual, espécie de reserva na qual uns camponeses continuam a viver uma ruralidade ultrapassada pela revolução industrial e a chegada, à Galiza também, da sociedade burguesa própria da Europa e do Ocidente do século XIX. Uma Galiza em contacto com todas as correntes de modernidade que na Europa se desenvolvem. Uma Galiza solidária com problemáticas de nações que lutam pela sua independência, e não só a verde Eirim, é referente de admiração. Qualquer nação que lute pelo direito a ser, qualquer povo que se esforce em reivindicar ser, suscita simpatia e admiração naquela gente que luta por se afirmar.

As Irmandades dirimiram profundos debates de estratégias sobre as formas de manifestação e atuação que o galeguismo devia apresentar

As Irmandades dirimiram profundos debates de estratégias sobre as formas de manifestação e atuação que o galeguismo devia apresentar. E desde a Assembleia de Lugo de novembro de 1918 todos, de direita e de esquerda, coincidem que a Galiza é uma nação. E uma nação não em abstrato, senão uma nação constituída por um povo com problemáticas concretas que precisam de ações diversas e criativas para a cidadania deste país se afirmar e poder viver em plenitude.

Acontece que as problemáticas são as mesmas. Parece que não transcorreram cem anos desde que as Irmandades da Fala iniciaram o seu percurso em prol da dignidade da nação e das suas gentes. Mas, apesar das semelhanças, o mundo, e a Galiza também, mudaram. As problemáticas serão similares, mas as respostas devem ser distintas para poderem dar solução a uma sociedade diferente. 

Da nossa inteligência e generosidade dependerá a importância que o nacionalismo terá no futuro desenho da Galiza e na sua capacidade de intervenção como instrumento na defesa dos direitos da Galiza, como Terra, e dos seus habitantes, como cidadãos.   

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