Opinión

Menos aplausos e mais armas

O 7 de abril, em meio a umha cimeira de Ministros de Exteriores da OTAN convocada às carreiras, o alto representante europeu para as relaçons exteriores, Josep Borrell, estabeleceu que estavamos na hora de deixar de dar aplausos a Zelenski e apostar decididamente no envio maciço de armas para a Ucránia. Nom foi qualquer exagero. Aos poucos dias, mudando o disfarce de diplomata polo de marechal, insistiu em que a crise no leste de Europa apenas se poderá resolver "no campo de batalha". É evidente que a UE e os EUA nom se sentírom em absoluto cómodos com os encontros da Ucránia e da Rússia em Belarus e na Turquia, por estarem fora da sua órbita directa e deixarem demasiada margem de incerteza. E também é evidente que o que esta política comunicativa procura é cortar o desenvolvimento dessas negociaçons e das futuras, e impedir, por qualquer meio, que Kiev poda chegar a qualquer entendimento, por parcial que for, com Moscovo. A aposta por alongar o conflito e maximizar as vítimas fai parte da estratégia que pretende que a Rússia acabe perdendo, mesmo chegando a ganhar a guerra. 

Ao estreitar as margens do que, a ditado de Washington, Bruxelas parece disposta a apoiar, as palavras de Borrell deixam ainda mais às claras que a soberania ucraniana importa pouco. E, de passada, confirma que, com toda a penosidade das suas vítimas civis e toda a destruiçom que haverá que reconstruir, a Ucránia é pouco mais que o palco onde se dirime umha guerra muito maior. 

Mas nom se trata só dumha aposta bruta pola guerra. Hai também um intento de manter umha normalidade assentada no direito à supremacia duns povos sobre outros. Revestida habilmente de toda a retórica dos "valores ocidentais" (a mesma que é capaz de chamar criminal de guerra a outros enquanto pacta vítimas e áreas de influência com jiadistas e neonazistas) e cavalgando sobre umha russofobia desbocada, esta normalidade à que já nom lhe cabem alternativas coloca-nos diante da relativizaçom e normalizaçom do fascismo, diante da naturalizaçom do assinalamento e do cancelamento, e diante da substituiçom da informaçom por propaganda. Todo o qual busca também colocar além das margens quem pretender analisar as causas e pôr de relevo o papel da OTAN. 

Contodo, também é claro que umha cousa som os "valores ocidentais" que as oligarquias da OTAN verbalizam, os valores que dim ter, e outra bem diferente som os que verdadeiramente tenhem. Por isso, na realidade, o que essa normalidade defende é o sistema unipolar de relaçons internacionais, que é o resultado da hegemonia estado-unidense a partir do fim da Guerra Fria, à que se apontam também a UE, o Reino Unido e outros actores secundários.

E é certo que nom som poucas as análises que falam da decadência do capitalismo e do sistema de dominaçom imperialista que leva associado. Mas, polo momento, também é certo que padecemos os maiores níveis de expropriaçom de riqueza e acumulaçom de capital em menos maos. Que haja indivíduos capazes de financiar viagens ao espaço e presumindo de poder lançar golpes de estado, mostra o prematuro que pode ser anunciar o fim dum sistema que, em troca, mantém dous terços da humanidade na fame e na pobreza. Afinal, o capital ainda é capaz de reproduzir a sua lógica, e a multipolaridade, que está por se desenvolver, só se consolidará se se consolidam os polos alternativos (neste momento, essencialmente a China e a Rússia, mas nom só) que se negam a aceitar as diretrizes do imperialismo e o papel dirigente das suas elites, e se a partir daí florescem novos modos de relacionamento menos assimétrico entre povos. 

Por isso, é cedo de mais para saber se o conflito de Ucraína nos irá afastar ou achegar mais a esse mundo multipolar. O que sabemos é que um mundo mais aberto e menos submetido aos mandados dumha única lógica abre umha janela de oportunidade para exercer a soberania. Tanto para os povos que já tenhem um estado, e que mesmo assim fôrom historicamente agredidos, como para aqueles que, como o nosso, ainda nem contam com a ferramenta estatal. O nacionalismo galego tem-se posto sempre do lado dessa multipolaridade, tecendo relaçons internacionais na linha do multilateralismo e da paz e denunciando o papel do imperialismo e da OTAN, nom só por princípios ideológicos, mas também pola evidência de que o único cenário em que a Galiza poderia desenvolver umha soberania real tem como precondiçom essa multipolaridade. 

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