Opinión

Abril de ferro, fogo e cravos

No próximo 23 de abril completam-se 176 anos do final de aquele sonho revolucionário e libertário de estudantes, intelectuais, labregas, artesaos e trabalhadoras galegas.

Um sonho que na Galiza se iniciou como umha contestaçom popular num contexto em que a política desenvolvida pola monarquía espanhola era da imposiçom dum centralismo espanholista com o Ministro de Estado e da Guerra, o general José María Narváez, como ideólogo. Umha estratégia centralista que anulava qualquer possibilidade de contar com um governo galego próprio.

Após o pronunciamento liberal-progresista capitaneado polo jovem marechal Miguel Solís e Cuetos, o galeguismo da época aproveitaria para reivindicar os direitos nacionais da nossa Pátria. À cabeça dos patriotas galegos, Rodriguez Terrazo e Antolín Faraldo, que em 15 de abril constituiriam a Junta Revolucionária do Governo da Galiza. Do seu vozeiro, La Revolución, reclamárom as liberdades e direitos que Narváez abolira, assim como que a Galiza fosse sujeito político, e combater a posiçom subalterna a que o nosso país tinha sido submetido, "convertido numha verdadeira colonia da Corte, que se tinha que erguer da sua humilhaçom e abatimento".

No entanto, a superioridade das tropas espanholas deu na derrota das e dos revolucionários, após a Batalha de Cacheiras, acabando por se refugiarem no Mosteiro de Sam Martinho Pinário. Detidos após se entregarem sob a promessa dum julgamento justo, na madrugada de 26 de abril fôrom assassinados em Carral os doze dirigentes de maior patente, incluído Miguel Solís. Faraldo, entre outros, acabaria exilando-se em Portugal. Estes factos ficárom gravados no imaginário coletivo galego, sendo a semente que germinaria o galeguismo do Rexurdimento e do moderno soberanismo das Irmandades da Fala e do Partigo Galeguista.

128 anos depois, naquele abril de ferro e fogo, à meia-noite e vinte minutos de 25 de abril, a cançom Grândola Vila Morena era transmitida na Rádio Renascença, para confirmar o início de umha outra revoluçom que libertava Portugal de quase meio século de ditadura fascista. A Revoluçom dos Cravos abria as portas para construir umha democracia ao serviço das classes populares. Ainda que os sonhos dum horizonte socialista se esvaíssem meses depois com a traiçom do PS e PSD, entregando a soberania portuguesa às estruturas económicas do capitalismo.

Nos próximos dias, com certeza, lembraremos e comemoraremos estas duas efemérides, e que melhor maneira que fazê-lo na rua e sob o berro de Faraldo de "nom queremos ser mais que galegas" junto a milhares de compatriotas este domingo 24 em Compostela?

Sairemos à rua com Via Galega para reivindicarmos que "Somos umha Naçom" e, como figérom os Mártires da Revoluçom galega de 1846, reafirmarmos a nossa vontade de deixar de ser umha colónia da corte. Porque temos direito a decidir o nosso futuro. Vemo-nos às 11.30 horas na Alameda de Compostela.

Comentarios