Opinión

Um outono movido

Outono tempo de fim e de começo. O Samaín marca-nos o fim dum ano e o começo duma nova etapa. Arranjamos os cemiterios para que as alminhas encontrem tudo a seu gosto quando as portas do inframundo abrirem. Numa vitoria do tempo sem tempo do universo celta que está nas raízes culturais da Galiza. Tudo se prepara para adormecer na calma do inverno. Mas a calma não é tal: comemoramos que faz agora 20 anos um barco petroleiro cheio de fuel cheiroso, o Prestige, deitou fora a sua peçonha inundando de chapapote toda a costa galega. No Parlamento Europeu haverá uma sessão dedicada a este fato. Na altura um governo burro, fez que um acidente dum barco velho se transformasse num desastre de proporções colossais. Rajoi falando de "hilillos", Alvarez Cascos de "praias esplendorosas", Aznar desde a sua soberba ignorava o dano que se lhe estava a fazer ao ecossistema marítimo-terrestre e as populações marinheiras. Todos desprezando a Galiza. E os grupos ecologistas, redeiras, marinheiros e vizinhança em geral, movilizando-se contra o esperpento da classe governante que queriam que disseramos que o dia era noite. Somente depois das atuações de ecologistas e associações vizinhais, do levantamento do povo lutando polo seu país, Fraga Iribarne pode passear pola Costa da Morte declarando: "Tenho os petos cheios de dinheiro", fazendo o que os caciques melhor sabem fazer: comprar vontades e votos nesse misto de fazer favores a custo do património comum, e o medo a represálias contra as pessoas dissidentes.

Nestes dias esta-se a celebrar em El Cairo a COP 27. Num intuito dramático de travar o desastre ecológico em que a Terra se encontra, por causa dum modelo económico-social que a está a levar ao fracaso. O modelo capitalista está descontrolado e tenta continuar a crescer como se a Terra não tiver limites. Para isso inventou um modo de medir a riqueza das nações: o Produto Interior Bruto que nunca faz referência aos custos ambientais necessários para consegui-lo nem o gasto energético global imprescindível para seu funcionamento. Por isso é pirata, e imoral. Faz-se trampa a sim próprio. A Terra é um grande ecossistema que integra outros sistemas interconectados. Desde a Estação Espacial é fácil ver esta unidade. Até se percebe "respirar o Planeta" como consequência dos intercâmbios gasosos com a sua atmosfera. Num intento fatal de dominar o mundo, estados amparam as grandes companhias, inventam guerras, acaparam território, gerando um processo urbanístico que desbalde matéria e energia. As grandes multinacionais querem as pessoas nas cidades e que o território fique vazio para utiliza-lo como fonte de minérios, parques eólicos, macrogranjas, etc. Deixando ao povo dependente. Como agora já estamos a ver. As grandes companhias, como num novo feudalismo, fixam o preço da luz, dos adubos, do grão e quando acabarem com todos os pequenos produtores fixarão o preço de todo alimento. Ignorando que na Terra existem ciclos hidrológicos que alimentam a biosfera. Não incorporando em seus custos a destruição dos ciclos biogeoquimicos que são a base da vida neste planeta. Ignorando que a Terra é um planeta vivo. Gustavo Petro, presidente de Colombia, na Cimeira do Clima insistiu: "A política de reflorestação não abunda para superar a crise climática. Há que deixar de consumir carvão e petróleo. É a hora da humanidade e não a dos mercados. Eles foram os causantes da crise ambiental. Eu digo que isso ainda não basta. Há que incorporar os custos ambientais nos processos de produção: transportes, pegada de carbono, consumo de água, destruição das florestas, da biodiversidade, custos sociais por um trabalho digno. Autogestão, não deslocalização, descentralização e diversificação, não centralismo e uniformismo, decrescimento, não crescimento ilimitado. Reconhecimento universal do crime de ecocidio". Fim do capitalismo monopolista.

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