Opinión

As Ilhas das Mulheres: arquipélago das Bijagós, 'bemba de vida'

Existe um arquipélago face as costas de Guiné-Bissau, fronte a foz do rio Geba em que as mulheres decidem as normas que regem a sociedade. Respeitadas por serem garantes da vida. Elas escolhem marido e elas podem-o botar fora do lar. Também organizam os trabalhos comuns e repartem justiça. Nomeadamente em Orango Grande uma das 88 ilhas que compõem o arquipélago. Bemba de vida significa 'celeiro de vida' em língua Bijagó. Neste arquipélago existem territórios sagrados onde não se pode habitar de maneira continuada. Apenas 22 das 88 ilhas podem ser habitadas. As outras, consideradas sagradas, representam reservas naturais assim estabelecidas antes de ser o arquipélago declarado Reserva da Biosfera pola Unesco em 1995. Sua riqueza biológica e seu carácter ambiental são únicos. O sistema económico é de autossuficiência e cooperativo. Impera o troco sobre o sistema mercantil. A igualdade de oportunidades entre homens e mulheres é ótima. A cultura oral domina sobre a cultura escrita, embora parece que o acesso à escola é generalizado. A natureza é respeitada polo seu valor sagrado natural e diverso. Soube destas ilhas pola escritora da Guiné Katia Casimiro. Em diferentes fontes encontramos citas como "as Ilhas em que todo o ano é o dia da mulher" ou "o arquipélago que conseguiu preservar a natureza". Mangais, palmeiras e árvores de caju são dominantes. Embora destaque como lugar de desove de tartarugas marinhas como a tartaruga verde (Chelonia mydas) ou de habitat para o rinoceronte marinho. Vários parques naturais e reservas marinhas garantem a proteção da sua rica biodiversidade. A produção de diversas culturas como o arroz, ou a noz de caju segura também a alimentação dos habitantes, junto com pequenas cabanas de porcos e de galinhas e da pesca, encarregada aos homens. Em águas límpidas livres de poluição. Evidentemente a pegada ecológica dos habitantes das Bijagós é mínima.

Os cidadãos da União Europeia consomem metade da produção mundial de carne, um quarto da produção mundial de papel e 15% da produção mundial de energia

Deveríamos estar em devida com eles, nós, habitantes da Europa, que precisamos mais de duas terras para atender as nossas necessidades de consumo. Embora representemos menos de 10% da população mundial, os cidadãos da União Europeia consomem metade da produção mundial de carne, um quarto da produção mundial de papel e 15% da produção mundial de energia. Estamos imersas num modelo de sociedade capitalista patriarcal em que o importante é o ganho ainda que for a custo de destruir o território e o esgotamento dos nossos recursos. Pondo em perigo o aceso a eles por parte das gerações futuras. Somos cientes de estarmos consumindo mais do que a taxa de reposição da Terra. E ainda assim nada indica que vaiamos parar. As grandes empresas em cumplicidade com os poderes políticos obtêm seus lucros usando os bens comuns sem custo nenhum (montanhas para pôr nelas parques eólicos, água que sugam os eucaliptos imisericordes, solos cultiváveis poluídos por pesticidas ou herbicidas, minérios, etc.) que deixam inutilizáveis para a descendência. Porém, neste mundo da abundância não é raro ver gente sem casa que dorme na rua desprovida de toda pertencia e sem saber se comera amanhã. Na minha cidade de Lugo, uma família dorme nos suportais de correios desde vários dias. Uma sociedade que precisa do que produziriam duas terras para se manter não pode atender a "sem teitos" em quanto as luzes de bairros como Sam Fiz mantém-se acessa toda a noite sem que ali haja habitantes que o precisem. Depois de ter-se destruído as carvalheiras que o habitavam.

Vivemos num mundo de despropósitos. Não sei se nas ilhas sagradas Bijagós poderíamos sobreviver, nós, acostumadas a comprar tudo aquilo que cremos precisar, a alumiar-nos a noite inteira, a termos atendimento médico e medicamentos, a movimentar-nos para onde e quando queremos. Mas sim que temos de pensar quanto do nosso consumo é imprescindível e qual é supérfluo e poupar os recursos do planeta para que nossas filhas/os tenham nele uma oportunidade de vida como fazem os habitantes das Bijagós.

 

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