O investimento na Galiza

O investimento é, juntamente com o consumo privado, o gasto público e o sector exterior, um dos quatro componentes do produto interior dum país. Igual que a despesa pública, tem um efeito multiplicador sobre a riqueza. Aumentar o investimento fornece maior capacidade produtiva e maior renda futura e por tanto, o crescimento da economia. Elaboração própria a partires de Quadro 4.29. Boletim Estatístico. Banco de Espanha. A Formação Bruta de Capital é o indicador que representa o investimento produtivo na contabilidade nacional. Corresponde à demanda privada ou pública de bens que cumprirão a sua função na economia a longo prazo e está composta por bens de equipa ou maquinaria, que determinam a capacidade produtiva e o crescimento económico, e também por bens como as vivendas. No estado espanhol, dá-se um paradoxo. Embora o nível de investimento adoita ser maior que a média da UE, este facto é resultado do maior peso da bolsa de vivenda residencial, mais que de bens de equipa. Por exemplo, do total do investimento bruto no estado espanhol que atingiu em 2021 os 243.400 milhões de euros (em adiante: M€), uns 51% foi empregue para vivenda e 36% para outras construções não residenciais, e só 19,5% para maquinaria e outros ativos produtivos. A inversão em capital produtivo e o trabalho estão a ser alvo dos ataques do capital financeiro. Como adverte o professor Michael Hudson, o sistema fiscal promovido pelo capitalismo financeiro predominante prejudica a indústria e consumidores para rebaixar a fatura fiscal dos rendimentos financeiros e a possessão de riqueza. A cultura da cobiça, de procura de lucro a curto prazo, desdenha empregar os excedentes para ampliar a capacidade produtiva. Assim também, o sistema financeiro tende a recusar o financiamento da I+D e a tecnologia que apresentam longos prazos de retorno, afetando o nível de competitividade. Dominância das finanças Nas suas origens, o capitalismo industrial estava dirigido pelos estados. Hoje, o capitalismo financeiro instrumentaliza o sector público para defender o seu próprio interesse. Presenciamos um cenário de dominância das finanças sobre a indústria que, segundo Hudson, rememora os velhos problemas da usura. Mas atualmente com uma diferença: não existe crítica moral como outrora. Aliás, a privatização do processo político e o cancro da dívida externa também limitam o investimento produtivo. Passamos de 16.500 milhões e 31% do PIB en 2009 para 10.295 milhões e 14,9% do PIB em 2022 Na Galiza, a evolução recente do investimento é péssima. Passamos de 16.500 M€ e 31% do PIB em 2009 para 10.295 M€ e 14,9% do PIB em 2022. Esta baixa taxa relativamente aos países da contorna limita a nossa capacidade produtiva e compromete o crescimento económico, entravando a geração de riqueza e a sua justa distribuição social. Ademais, do total de investimento que recebem as comunidades autónomas desde fora do estado, Galiza obteve em 2022 só 0,5% frente 50% de Madrid, 16,1% do País Basco ou 11,4% Catalunha. Apenas recebemos 172 M€ dum bruto total de 34.178 M€. Ainda, mais um fator negativo é a drenagem do nosso aforro. Persiste o desequilíbrio entre os depósitos bancários e os créditos que recebemos, saindo do País quase 45% do nosso PIB em 2022, sem que desde o governo galego se atue com determinação para resolvê-lo. Segundo o Banco da Espanha, o sector público e privado da Galiza mantinham a data de dezembro de 2022, depósitos por importe de 78.166 M€ e recebia apenas 60,56% em créditos: 47.338 M€. A tendência à substituição da inversão em capital A tendência à substituição da inversão em capital por um aumento da exploração laboral, a política monetária restritiva, a desvalorização relativa do lucro derivado da inversão tecnológica enquanto a dirigir decisões de investimento, etc. são fatores que não favorecem nova formação bruta de capital produtivo. Diversas análises, como o Estudo Global das Empresas de Galiza de Ardan, alertam sobre o declínio do investimento empresarial. O Foro Económico de Galiza destaca a baixa produtividade do nosso tecido produtivo relativa à média estatal e o baixo posicionamento nos índices de competitividade e inovação. As conclusões dos estudos do BBVA-IVIE sobre investimento e stock de capital advertem da nossa baixa colocação nos índices de dotação de infraestruturas ferroviárias e aeroportuárias, e sobre a necessidade de que a inversão pública, além de garantir o mantimento das infraestruturas públicas, seja reorientada junto a privada, para aumentar a produtividade. Planificação, participação pública e avaliação das políticas públicas, são retos tão iniludíveis como comum é a constatação da falência do sector institucional autonómico para atrair investimentos não lesivos para Galiza.