Autonomia estratégica galega?

O grupo saudita STC adquiriu 9,9% das ações da Telefónica, tornando-se o maior acionista, o que levou ministras espanholas a destacar a importância de preservar a autonomia estratégica da Espanha. O conceito de autonomia estratégica (AE) tem raízes profundas na teoria das relações internacionais e na prática política, associada ao desenvolvimento das ideias de soberania, poder estatal e independência. Algumas das principais influências históricas que contribuíram para o desenvolvimento do conceito de AE foram o Tratado de Westfalia de 1648, o desenvolvimento do Estado-Nação, e a teoria das relações internacionais. A evolução da ordem internacional, incluindo eventos como as duas guerras mundiais, a Guerra Fria e mudanças na política global, também moldou o conceito de AE, que tem as suas raízes na evolução da soberania estatal, na teoria das relações internacionais e nas experiências históricas de Estados e regiões em busca de independência e capacidade de tomar decisões autónomas. Pode ser aplicada a diversas áreas, como política externa, segurança, economia, comércio, finanças, inovação e tecnologia, etc. Reflete a necessidade de influência e capacidade de decidir em questões de interesse próprio. Pressupõe liberdade e capacidade para atuar. Contudo, é um conceito dinâmico e em constante redefinição, que está cobrando relevância crescente na política internacional contemporânea. E em todo caso, não significa necessariamente o isolamento ou a recusa em cooperar com outros países, mas sim conseguir um equilíbrio entre a autonomia e a cooperação, mantendo a capacidade de tomar decisões independentes quando necessário para proteger os interesses nacionais. Em 2008, a economia dos EUA era equivalente à da Zona Euro; hoje, quase a duplica Estamos a testemunhar o declínio do império global liderado pelos EUA, com o surgimento de novos centros de poder, notadamente a crescente influência da China e dos BRIC. O processo de desglobalização, fragmentação económica e financeira, e mudança na estrutura de alianças está resultando em perturbação das cadeias de fornecimento globais, desindustrialização e perda de confiança no sistema e liderazgo moral de ocidente. Transitamos para a regionalização das trocas e a briga pelo domínio tecnológico, o uso das matérias-primas como arma económica e a irrupção de confrontos bélicos como manifestação violenta de conflitos de raiz geopolítica. Europa O mundo muda e o peso da Europa está a diminuir. O próprio Borrell adverte sobre o risco de a UE se tornar irrelevante se não agir prontamente. Alude à sobrevivência política e ao carácter assimétrico da interdependência e vulnerabilidade, num contexto onde produtos estratégicos são usados como instrumentos de pressão na política global. A Europa está numa posição de subordinação na ordem mundial, moldada pelos interesses geoestratégicos dos EUA, que agem para minar a já frágil unidade europeia e evitar qualquer aproximação com o eixo euroasiático. A insegurança europeia decorre da falta de uma postura estratégica unificada e prioridades definidas no cenário geopolítico, aumentando a dependência política, económica e militar relativamente aos EUA, tornando os projetos de AE irrelevantes. A privação no acesso a recursos essenciais em mãos da China e Rússia, enfraquece a competitividade industrial da UE e fortalece empresas norte-americanas. Em 2008, a economia dos EUA era equivalente à da Zona Euro; hoje, quase a duplica. Além disso, os programas europeus de transição energética e digital não aumentarão a autonomia, mas sim a dependência externa. Galiza No estado espanhol existe um claro conflito de interesses entre os territórios que ocupam uma posição dominante, quer no âmbito político, quer no económico, e comunidades nacionais como Galiza que ocupa uma posição de dependência e subordinação. Daí a importância do conceito de AE como mais um mecanismo conceitual para guiar a reconquista das alavancas do nosso destino, para a defesa dos nossos interesses e para exercermos uma autonomia política real, num entorno e futuro cada vez mais complexos e incertos. Nos últimos catorze anos, a Galiza enfrentou um acentuado declínio económico e social, juntamente com um estancamento na convergência económica com os nossos vizinhos e uma perda de peso a nível estatal e europeu. Esta situação deve levar a sociedade galega a refletir sobre a sua realidade política e a trilhar um novo caminho em busca de um futuro mais promissor, superando a esclerose institucional de modo a impulsionar o nosso desenvolvimento nacional em todas as áreas.