Bardo na Brêtema

"Todo o poder ou ideologia precisa de um músico para fazer esquecer a violência geral; de fazer acreditar na harmonia do mundo pela legitimação do poder; e de fazer calar a dissidência produzindo uma música ensurdecedora e eclética” Na pequena localidade de Valdrães, situada em Tui, Galiza, viu a luz do dia em 29 de Fevereiro de 1952 Rudesindo Soutelo, um talentoso compositor, cuja trajetória transcende as nossas fronteiras geográficas. Como Mestre em Educação Artística, brindou a academia com uma tese intitulada A complexidade do simple, dedicada à conceição de um conto musical. A sua maestria também se estende ao Ensino de Música, explorando os "Sons e silêncios de uma vida", título sugestivo de sua segunda tese de Mestrado. Os Conservatórios de Vigo, Madrid e Schaffhausen, na Suíça, foram os cenários onde absorveu conhecimento, moldando sua habilidade com mestres notáveis como Rodolfo Halffter, Agustín González de Acilu, e Janos Meszaros, este último na arte do fagote. Ainda, o renomado docente marcou presença na Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Viana do Castelo, além de contribuir para os Conservatórios de Música do Porto e Braga, ministrando disciplinas que abordavam desde Análise e Técnicas de Composição até a História da Cultura e das Artes. Académico Ainda, a sua presença na esfera acadêmica é notória, com a publicação de artigos voltados para a educação artística e o ensino de música. Em colaboração com o Centro de Investigação em Estudos da Criança do Instituto de Educação da Universidade do Minho, foi o arquiteto do I Simpósio Nacional "Percursos do Ensino da Música", realizado em Ponte de Lima de 7 a 9 de julho de 2014. Além disso, Rudesindo Soutelo é académico fundador, e na atualidade presidente, da Academia Galega da Língua Portuguesa (AGLP) e vice-presidente da Rede da GaliLusofonia. Em 1972, fundou as Juventudes Musicais de Vigo, iniciando uma jornada de inovação musical ao formar o grupo Letrinae Musica, que apresentou o movimento neo-new-dadá Quadrado de Pi, vinculado ao movimento Fluxus. Tal movimento tinha como objetivo desafiar a infâmia deixada pelo ditador Francisco Franco. Em 1980, em Madrid, empreendeu na criação de uma editora musical, simultaneamente impulsionando revistas provocativas como La Matraca e Da Capo, esta última um panfleto musical independente. Colaborou, em 1986, com Janos Meszaros, na conceição de uma escola internacional de música no conjunto histórico de Nuevo Baztán, um palácio barroco da autoria de Churriguera, situado a 45 km de Madrid. Produção artística e editorial Na esfera da composição, suas obras ostentam títulos aparentemente beligerantes, mas que revelam apenas uma abordagem irreverente e divertida, uma forma sonora de ridicularizar as tentativas medíocres de controle sobre a música. Adota uma postura distante do mercado de concertos inaugurais, da adulação crítica, do encanto empresarial e das formalidades da instituição do "mundo da arte/música", que, para alguns, confere o almejado estatuto de artista/compositor. A produção musical de Soutelo é bem generosa e versátil, abrangendo composições para uma variada gama de instrumentos: piano (Bálsamo de Ferabrás, Retrato duma moça na conversa, Yx soy yc – Ponto de arroz menos um, Helen – 5 peças breves em posição fixa, A sardinha, A Gaivota, André – 5 peças para uma criança; órgão (Quod nihil scitur -homenagem a Xosé María Álvarez Blázquez) guitarra (André – 5 peças para uma criança, Deu-la-deu, Triando) ou gaita de fole (Borobó, Manuel María, Carlos Durão, Teresa Moure), cordas (o anel de Giges, Divertimento 1, Alva, 23(23/8)8, madeiras (Utopias, Alvia Lear, Divertimento 7, Feitiço), metais (Divertimento 2), percussão (Bran – O protetor do Bardo e da música). E ainda, anuncia duas novas composições: uma para quinteto de sopros (O corvo da liberdade), e outra para banda sinfónica (Minho azul). Em 2003, deu início à sua incursão no panorama editorial, contribuindo com o semanário galego A Nossa Terra através da rubrica "O Bardo na Brêtema", na qual discorria semanalmente sobre música erudita e as lacunas culturais entre os políticos galegos. Essa coluna persiste, agora encontrando espaço nos periódicos A Aurora do Lima, em Viana do Castelo (o mais antigo da Europa), e As Artes entre as Letras, no Porto. A sua filosofia defende ardorosamente a forma significante e a atitude estética como antídotos contra o vazio contemplativo gerado pela arte desprovida de sonhos, um embate contra a decadência que permeia a expressão artística.