Xerardo Moscoso. "Soio de saxofón"

Entre as canções que ressoaram na minha vida está "Soio de saxofón", de Xerardo Moscoso. Nos retalhos da nossa história recente há os seus mais e os seus menos, e entre essas medianias encontras por acaso algo do que gostas, e é como uma luz que aluma a senda que percorres. Impossível agora precisar quando a ouvim por vez primeira. Seria alguns anos depois de aparecer em disco, um single que chegara à casa familiar e que, trás a última mudança, agora tenho eu na minha. Lembro, por exemplo, que a cantávamos na furgoneta quando íamos de gira com o grupo de teatro Troula, e na verdade quem a cantávamos éramos Manquiña e mais eu, os únicos que a sabíamos. Xerardo sofreu ameaças na Espanha ainda franquista e viveu na França e na Suíça entre os anos 73 e 76. Vem-me à memória nestes dias porque há menos de dous meses era notícia a morte de Xerardo Moscoso, em México, onde ele nascera filho de emigrantes galegos. Na década de sessenta veu a estudar Medicina a Santiago, onde mergulhou no contexto revolucionário antifranquista emergente na altura, tendo uma importante actividade como cautautor. De facto, foi um dos fundadores do movimento Voces Ceibes, com Benedicto, Xavier del Valle, Guillermo Rojo, Vicente Araguas e Miro Casabella, aos que mais tarde se uniriam outros como Bibiano e Suso Vaamonde. Quando se fala do maio do 68 em Compostela tende-se a ver um seguimento mimético do acontecido em Paris, se bem Méndez Ferrín tem comentado que aqui se produziu antes. Se isto é certo, cumpriria fazer valer, entre outras cousas, o multitudinário recital na Faculdade de Medicina da Universidade de Sntiago o 26 de abril de 1968, onde já participou Moscoso, que reuniu duas mil persoas, sendo considerado o germe de Voces Ceibes. "Soio de saxofón", assinada por J. A. Llamas e X. Moscoso, emprega uma linguagem coloquial, desgarrada e melancólica na segunda persoa: "Cando ti veñas / co puñal na mao/ e levantes o brazo/ e dés o paso corto / o paso decisivo / e berres: se acabou. Nese momento / no que me craves a ollada / eu che direi: / irmao, / déixame denantes tocarche un soio de saxofón. / Que ao menos unha vez, na tua puñeteira vida, / aínda que sexa malamente / escoites un pouco de música boa. / Déixame denantes tocarche un soio de saxofón". O single aludido é um vinil de quatro temas, editado por Edigsa/Xistral (Barcelona 1969). No lado A está "Acouga" (X. Les – X. Moscoso) –lírica denúncia da miséria que padece o labrego numa Galiza falseada– e "Soio de saxofón". E no lado B, "Poema de emerxencia pra Antonio Machado" (C. Casares – X. Moscoso) e "As augas das fontes e os ríos" (J. A. Llamas – X. Moscoso). Xerardo sofreu ameaças na Espanha ainda franquista e viveu na França e na Suíça entre os anos 73 e 76. A sua volta à Galiza continuou a ser problemática e regressou a México, onde, para além de médico, foi actor de cinema e teatro, e mesmo diretor neste âmbito. No estado de Coahuila fundou o grupo teatral La Gaviota com estudantes e operários das classes trabalhadoras. Agora, ao escuitar o disco, penso no pouco que se conhece a nossa história.