Foram os escritores David Alves Gomes, Lidiane Ferreira (co-autores do livro Enegrescência que deu nome ao projeto), Fábio Cunha e Gonesa Gonçalves que impulsaram o projeto com o objetivo de criar meios de divulgação para as literaturas afro-brasileira e africanas.
Qualquer fórmula é boa para chegar ao público mas gostam, os mentores, especialmente de festas à noitinha, de saraus, onde novos autores podem recitar os seus poemas ou contos. As apresentações musicais, teatrais e de qualquer outra modalidade artística que problematize questões referentes às chamadas minorias sociais são bem-vindas a estas reuniões.
Além disso, forma parte do projeto o recitado de obras de escritores angolanos, como o Agostinho Neto e a Ana Paula Tavares, moçambicanos, como o José Craveirinha e a Noémia de Sousa, são-tomenses, como o Francisco Tenreiro, dentre outros autores e nacionalidades africanas, além dos autores e autoras negro-brasileiros.
Uma sociedade menos desigual
O Projeto Enegrescência define-se como “um coletivo interessado em impulsionar a interculturalidade através da educação, da literatura e das artes em geral, entendendo-as como pilares principais para a construção de uma sociedade menos desigual e menos hierarquizada, principalmente no que tange aos seus princípios e valores”
Assim, os saraus realizados pelo Projeto visam a estabelecer justamente esse diálogo intercultural com a comunidade baiana, que muitas vezes encontra-se inacessível a obras de autores negro-brasileiros ou africanos justamente pela inexistência ou ineficácia das divulgações institucionais.
O Projeto Enegrescência visa a divulgação e a internalização de valores africanos, de forma não estereotipada e não hierarquizada, como agentes de possíveis mudanças na sociedade baiana, na brasileira e quiçá noutras latitudes.
Além dos saraus, o projecto conta com um Blog que reúne mais de setenta autores e autoras de literaturas negro-brasileira e africanas, com o objetivo de ser mais um meio divulgação dessas literaturas em suporte digital.
Como amostragem, o poema Sensus da poeta moçambicana e colaboradora do Sermos Galiza Hirondina Joshua.
Sensus
Falamos a mesma língua
Do raiar do tempo
Falamos a mesma língua
Sussurrada pelo vento
A língua do céu
Neste Sol da alvorada
Da nuvem sem véu
Em labareda
Falamos o toque
A vontade
A veia
O sangue...
A Vida em ascendência
Quimera em Transcendência
A língua que nos refaz
Em dias lentos
Transforma-nos
Em eternos
Vencedores do silêncio
Falamos sem voz
Em alta voz
A língua
A língua
A secreta
Língua
Falamos falamos
O toque
A vontade
De nascer...
A língua...
A língua da pele
Fonte da informação: Projeto Enegrescência (http://enegrescencia.blogspot.com.br/)