"Curas roxos"

O Foro de Curas de Madrid fez público a semana passada um comunicado que pede o voto nas eleições madrilenhas para qualquer partido que não seja Vox ou o PP, pelo “ultraliberalismo político e económico de Díaz Ayuso” e as “propostas antidemocráticas, homófobas e aporofóbicas de Vox”. Isto, pela irrelevância do voto a Ciudadanos, supõe o apoio explicito para os três partidos de esquerdas que se apresentam: PSOE, Podemos e Más Madrid.

A razão de tal cousa é para eles que “por fidelidade a Jesus, deve ser prioritário dos que nos dizemos seguidores seus lograr que na sociedade disfrutem do maior benestar possível quantas mais pessoas melhor, sem excluir a ninguém”; por isso, “o nosso empenho político há de ser que os nossos governantes tomem quantas medidas sejam necessárias para aliviar o sofrimento dos que vivem numa situação de malestar permanente”. Dão argumentos concretos de que isto não se cumpre na política levada a cabo pelo PP –“que beneficia os melhor situados, menoscabando a proteção dos mais vulneráveis”– nem nas propostas xenófobas de Vox.

Na reação contra eles, alguns falaram de “forocurascomunistas”, “panfleto comunista” que “pede o voto para os roxos como eles”. Porém, não faltou quem disse: “Por fim curas que comungam com a sua doutrina, que é a de ajudar aos necessitados”.

Eu, que conheço alguns destes curas, que comparti com eles há anos reuniões e jantares e que comungo com as suas posturas –pois a direita sempre cuidou mais os interesses dos ricos que o dos pobres–, lembrei um livro superventas de há anos que lemos muitos com avidez: Los curas comunistas de José Luis Martín Vigil. Ainda nos anos do franquismo, este livro dum jesuíta defendeu os curas obreiros –como o Padre Llanos e outros– que elegeram os bairros mais humildes e marginais para viver ali e fazer o seu trabalho. Nunca me ofendeu este alcume, que recebi muitas vezes nos meus anos de cura rural, logo num povo da Marinha e num bairro obreiro de Ferrol. Sempre pensei que Jesus de Nazaret tinha mais parecido com eles que com os poderosos do seu tempo; frente aos oprimidos que sempre defendeu, aqueles sentiram-se muito molestos com ele e levaram-no até a cruz.