Opinión

Chove sobre molhado ou arde sobre queimado

Muitos rios de tinta se têm vertido respeito do problema dos incêndios no espaço rural da Galiza, assim como sobre a análise da sua origem, causas, consequências e propostas de atuação para lhe fazer fronte.

Desde o meu ponto de vista seria conveniente mudar a denominação de incêndios florestais pelo de incêndios rurais, ou no espaço rural, porque a estas alturas acho que todo o mundo terá claro que o que arde não é somente o monte bem seja plantado ou não, senão que o que arde na Galiza é o espaço rural com toda a sua complexidade, desde património natural, biodiversidade, fauna, meios produtivos agrários, vivendas e em casos extremos vidas humanas, mas também memória, história e a cultura de muitos povos.

Galiza leva ardendo desde os anos sessenta do século passado, mas nos últimos anos esta situação vem-se agravando progressivamente com o abandono do rural e a monocultura de espécies de crescimento rápido, ao que há que acrescentar novos fatores como o da mudança climática, dando lugar aos denominados incêndios de sexta geração, que se caracterizam por um único incêndio afetar a milhares de hectares.

De nos fixar nos episódios mais marcantes dos últimos anos para deles tirar lições e propor medidas para atalhar as vagas que nos assolam ano após ano, dependendo da climatologia, vemos que depois de 2006 a Conselharia nacionalista do Meio Rural promulgou a primeira lei galega contra incêndios florestais, e adotou medidas estruturais como as Unidades de Gestão Florestal (UGFOR) que pretendiam uma maior rentabilidade do monte, assim como a sua ordenação, ou a criação do Banco de Terras. Com a volta do PP ao governo galego eliminaram-se as UGFOR, mudou-se a Lei de incêndios de 2007 reduzindo as distâncias mínimas das franjas de gestão de 50 a 30 metros, ou promoveu-se a plantação de grandes extensões sem a obriga da existirem fincas com outras culturas para favorecer a descontinuidade, em definitiva a desordem.

O senhor Feijóo, daquelas presidente da Junta da Galiza, após os incêndios de 2017 propus o que ele denominou "pacto de país" que concretizava em 30 medidas, sendo muitas delas já recolhidas em textos legislativos existentes mas não materializadas, e outras como a referida à elaboração dum novo Plano Florestal resultou uma profunda decepção.

Decepção por a revisão do Plano Florestal ser aprovada em solitário pelo PP sem a participação dos agentes sociais, sem que no mesmo figura-se instrumento de controlo e seguimento e se opta-se por favorecer exclusivamente a indústria da madeira de baixo valor acrescentado, propiciando a monocultura do eucalipto, fomentando um modelo continuísta e fracassado para a prevenção e defesa contra os lumes no rural e no que se promovem políticas agressivas contra o monte vizinhal.

A maiores, com o voto em contra do PP e abstenção do PSOE, em 2018 foi rejeitada a ILP que aspirava proteger o bosque autóctone, a racionalizar a gestão do monte mediante uma moratória indefinida para novas plantações de eucaliptos, e na que se propunha uma série de medidas para mitigar os incêndios rurais.

Com motivo dos incêndios de 2017 o Parlamento da Galiza constituiu uma Comissão de estudo emitindo o seu ditame em julho de 2018, um ano após um grupo de espertos, seguindo as recomendações desse ditame, elaboraram um documento de propostas de atuação.

Com todos estes antecedentes chegamos ao ano 2022 e de novo o rural galego vê-se ameaçado pelas chamas que não cessam. Mas o PP e o seu governo seguem insistindo nas suas políticas neoliberais, apostando na monocultura do eucalipto (Ence+Altri), sem adotar medidas efetivas contra a desertificação do rural e sem garantir uma vida digna a quem nele vive, ou o que é o mesmo que favorecer a obtenção de preços dignos para as produções agropecuárias, e na sua teima de a causa dos lumes ser devida ao gene pirómano da povoação galega: "imos a por eles", diz Feijóo em 2017. 

Tudo parece indicar que com este governo seguimos igual, chove sobre molhado, cada vez menos, ou deveremos dizer que, arde sobre queimado, e cada vez mais.

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