Mais galego na Europa

A José Pousada, in memoriam, e a Camilo Nogueira, eurodeputados pioneiros. Celebramos o recente surgimento e difusom, na plataforma internética change.org, do abaixo-assinado "Mais galego na Europa", o qual, lançado por um grupo de membros da associaçom Docentes de Português na Galiza, já foi subscrito por um considerável número de pessoas e reclama das autoridades galegas, espanholas e europeias o reconhecimento do galego como variedade (nacional) da internacional língua galego-portuguesa, de modo a se possibilitar o uso normal, e para todos os efeitos, do nosso idioma nas instituiçons da Uniom Europeia. Umha estratégia alternativa, a de as instituiçons da UE reconhecerem o galego (junto com o catalám e o basco) enquanto língua regional isolada, embora seja a promovida polo atual Governo espanhol, de acordo com a oficialidade galega (o complexo espanholista-regionalista), está agora a defrontar sérias resistências políticas e organizativas e corre o risco de ficar gorada, para além de se revelar intrinsecamente redundante e pouco operativa. Tenho agora à vista o ecrám do meu telemóvel. Querendo viver em galego, configurei-no, naturalmente, em "português", no essencial, galego genuíno O manifesto declarativo-exortativo que acompanha a iniciativa "Mais galego na Europa", deixando de parte pequenas inconseqüências formais, que depois comentamos, desenvolve-se conforme moldes de pura sensatez lingüística. Identifica o galego como variedade geográfica do (galego-)português e qualifica este de sistema lingüístico pluricêntrico (com duas normas bem definidas, a lusitana e a brasileira, e umha terceira, a galega, em processo de cristalizaçom). A esse respeito, congratulamo-nos de que os redatores do manifesto, de forma realista, com bom senso e com senso prático, tenham enveredado por aquilo que vinhemos a chamar reintegracionismo coordenacionista, que reconhece a autonomia e particularismo galegos dentro da essencial unidade da Lusofonia (ou Galaicofonia), e também do facto de que aqueles enxerguem a língua alemá, organizada nas variedades nacionais alemá, suíça e austríaca (esta, com reconhecimento específico na UE a partir de 1994), como modelo natural para estruturarmos (na Europa) o pluricentrismo galego-português (conforme, de facto, explicávamos em artigo do Nós Diario de 11.6.2020). Estreita consangüinidade Dentro dessa feliz clarividência geral, no manifesto também podem detetar-se umhas poucas dissonáncias de somenos importáncia. Assim, a razons de diplomacia ou prudência tática caberá atribuirmos que no texto, com forte atenuaçom, se fale da "relação de proximidade [do galego] com o português", quando a proximidade é, claro, entre castelhano e galego-português, e o que há entre galego e lusitano é estreita consangüinidade, ou relaçom entre gémeos univitelinos (criados em ambientes diferentes), com coincidência quase total no léxico e na gramática basilares. Tenho agora à vista o ecrám do meu telemóvel. Querendo viver em galego, configurei-no, naturalmente, em "português", e vejo o rótulo "As mensagens e chamadas são encriptadas ponto a ponto. Ninguém fora desta conversa, nem mesmo o WhatsApp, pode lê-las ou ouvi-las. Toque para saber mais". O rótulo é "português", e, portanto, no essencial, também galego genuíno. Aliás, simplificaçom excessiva da parte dos redatores do manifesto é restringirem os particularismos galegos essenciais (a respeito do lusitano e do brasileiro) ao ámbito do léxico (que aqueles, indevidamente, às vezes chamam terminologia), pois também algumhas diferenças morfológicas substantivas poderám ser apontadas: assim, na redaçom do manifesto, um "foram" e um "tiveram" deveriam ter surgido, é claro, como "fôrom" e "tivérom" na versom galego-portuguesa. Já alguns pormenores da descriçom que no manifesto é feita do pluricentrismo do alemám som pouco acertados, pois qualificar a variedade alemá do alemám (da R. F. da Alemanha), e os seus teutonismos, como "alemão comum", frente ao alemám austríaco e os seus austriacismos (e ao alemám suíço e os seus helvetismos), parece contradizer a própria essência do pluricentrismo. Em conclusom, "Mais galego na Europa" representa a conceçom mais natural e a estratégia mais eficaz e útil para configurarmos o estatuto, na Europa e na Galiza, do nosso idioma. Seria portanto inconcebível que o soberanismo ou nacionalismo galego, no seu conjunto, as nom adotasse, perante a nítida linha teórica ou teórico-prática de Murguia e Pondal, de Risco e Castelao, de Biqueira e Vilar Ponte, de Guerra da Cal e Paz Andrade, de Carvalho Calero e Marinhas del Valle... E na esteira da coerente, corajosa e bem-sucedida praxe comunicativa, no Parlamento Europeu, de José Pousada, da Coligaçom Galega, e de Camilo Nogueira e Ana Miranda, do BNG!