Unasul e Celac no novo cenário geopolítico

A política externa brasileira volta a assumir protagonismo na América Latina, especialmente ao Sul da região. O mais recente fato ocorreu no dia 6 de abril, com a decisão de regressar à União de Nações Sul-Americanas (Unasul). — A atuação cooperativa pode ser um bom exercício para a realização de políticas que conduzam os povos da região a vitórias em seus projetos nacionais Assim como o Brasil, a Argentina também anunciou que voltará ao bloco, que atualmente tem como membros Bolívia, Guiana, Suriname e Venezuela, além do Peru, que se encontra suspenso. A Unasul foi fundada pelos governos de Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Guiana, Paraguai, Peru, Suriname, Uruguai e Venezuela e chegou a contar com a presença dos 12 países da América do Sul, em 2010. Com alguns retrocessos políticos ocorridos a partir da segunda década, algumas nações se retiraram da Unasul, principalmente por divergências políticas, ligadas a concepções retrógradas contrárias à integração continental e próximas do imperialismo estadunidense. Um modelo de integração O objetivo da Unasul é fomentar a integração entre os países sul-americanos, em um modelo que busca integrar as duas uniões aduaneiras do continente: o Mercosul (integrado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai, e associados) e a Comunidade Andina (formada por Bolívia, Colômbia, Equador e Peru). Além da esfera econômica, atinge outras áreas, como social, cultural, científico-tecnológica e política. A decisão brasileira de retornar à Unasul reforça a posição assumida durante os quatro governos liderados pelas forças progressistas (2003 a 2016) e reforçada na última campanha eleitoral de Lula, de aprofundar, consolidar e aprimorar as relações entre os países do continente. Ainda em janeiro último, o Brasil também retornou à Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), após três anos de afastamento do mecanismo, e participou da sétima reunião de cúpula do grupo, em Buenos Aires, na Argentina. A Celac reúne 33 países da região e desde sua criação, em 2010, tem promovido reuniões sobre os diversos temas de interesse das nações latino-americanas e caribenhas. Embora a Unasul e a Celac tenham objetivos semelhantes, elas têm diferenças em relação à sua composição e ao seu escopo de atuação. Enquanto a Unasul é composta apenas pelos países sul-americanos, a Celac inclui todos os países da América Latina e do Caribe. Além disso, a Celac tem um escopo mais amplo de atuação, incluindo o relacionamento com outros blocos globais, como o Brics, e bilateralmente com a China, por meio de um Fórum que se reúne a cada dois anos e é ponto de convergência de acordos de largo alcance comercial e financeiro. ambiente. Assim, ambas atuam em conjunto para promover a integração e a cooperação na América Latina e no Caribe. Democracia e independência No plano político regional e na geopolítica global, a Unasul e a Celac buscam o avanço democrático, o reforço da independência, o desenvolvimento compartilhado e a paz mundial. A Unasul e a Celac são criações que só se tornaram possíveis com o desenvolvimento do ascenso político das forças progressistas e soberanistas e sua chegada aos governos de distintos países. São, assim, fruto da resistência e da luta contra o neoliberalismo e o neocolonialismo. A integração é um processo histórico, não apenas um compromisso pragmático ou circunstancial. A integração pertence aos povos, não aos governos. Os povos sempre hão de encontrar caminhos e formas para construir a união. A integração é uma tendência objetiva e se traduz em mecanismos capazes de inserir os países da região no mundo globalizado e turbulento dos dias que correm, para não se tornarem presas fáceis das potências imperialistas. A América Latina está vivendo de novo um ciclo progressista, embora distinto do anterior. No novo contexto histórico, os novos governos democráticos e soberanistas não têm em muitos aspectos as mesmas performances dos anteriores e até mesmo demonstram posições políticas e ideológicas contraditórias com as tendências revolucionárias e anti-imperialistas de alguns governos. Contudo, a atuação cooperativa na Unasul e na Celac pode ser um bom exercício para a busca de consensos e a realização de políticas que objetivamente conduzam os povos da região a vitórias em seus projetos nacionais. O exercício de uma política externa soberana e a colocação em prática da integração entre povos para o desenvolvimento compartilhado, o exercício da solidariedade genuína entre povos amigos é parte integrante das lutas históricas pela emancipação nacional e social, de que os novos governos de esquerda e centro-esquerda não se devem afastar.