Drenagem financeira, o destino dos nosos aforros

Durante o período dos governos de Feijóo desarticulou-se um sistema financeiro composto por uma série de caixas de aforro e bancos fortemente assentados no território onde mantinham os centros de decisão e a base da sua atividade, e no que desenvolviam estratégias de negócio que favoreciam certo impulso ao desenvolvimento industrial autóctone. A reestruturação das caixas de aforro, o seu posterior regalo à banca privada forânea e a absorção por parte de grandes grupos financeiros espanhóis dos bancos de origem galego que possuíam uma extensa rede de oficinas e uma ampla quota de mercado, deixaram Galiza sem entidades financeiras próprias. Desde então, o aforro galego segue a ser drenado por um sistema financeiro baixo controlo forâneo que transfere grande parte dos nossos depósitos como recurso para conceder crédito fora de Galiza, fomentando o desenvolvimento doutros territórios. Fenómeno que, como assinalou o professor Edelmiro López Iglesias nestas mesmas páginas, coincide com uma taxa de investimento inferior à meia estatal e europeia e que, ano trás ano, vai descapitalizando o nosso País. Os últimos informes publicados pelo Banco de Espanha, correspondentes a junho de 2022, constatam mais uma vez como Galiza está entre as CCAA com uma das piores relações entre créditos e depósitos. Galiza mantém depósitos vivos por um montante de 79.147 milhões de euros e só recebe crédito por 47.678 milhões de euros. A diferença, 31.469 milhões de euros, supõe quase duas vezes e meia o orçamento anual da Junta de Galiza, e a metade do nosso PIB. De cada 100 euros que depositamos nas entidades financeiras, apenas 60 são canalizadas para conceder crédito na Galiza e o resto tem como destino o crédito noutras CCAA do Estado, contribuindo para o seu desenvolvimento e prejudicando a nossa capacidade de financiar investimentos produtivos na terra, contribuindo para a descapitalização da nossa economia. De cada 100 euros que depositamos, apenas 60 são canalizadas para conceder crédito na Galiza e o resto tem como destino o crédito noutras partes do Estado Todas as CCAA experimentaram uma evolução negativa desde 2009. Porém, Galiza situa-se entre as mais afetadas. Se em 2009 o ratio era positivo e recebíamos mais crédito que o depositado numa proporção de 1,32; em 2022, a situação inverte-se absolutamente e a ratio cai ao 0,6 que exprimido em termos percentuais significa uns 60% de créditos sobre depósitos em 2022 frente aos 132% de 2009. Se em 2009, por cada 100 euros depositados recebíamos 132 euros em créditos, em 2022 só recebemos 60. No lado oposto, Madrid volta ser neste caso a menos prejudicada, junto a Euskadi, pela evolução negativa da ratio créditos / depósitos desde 2009. Em termos absolutos, a evolução do crédito na Galiza a respeito do 2009 tem experimentado uma queda muito significativa. Na altura de junho de 2022 emprestaram-se na Galiza 23.605 milhões de euros menos que em 2009. Doutro lado, a evolução dos depósitos é logicamente inversa à dos créditos. Em 2022 depositaram-se, 25.275 milhões de euros, quase um 47% mais que em 2009, o terceiro maior incremento de todas as CCAA do Estado, depois de Canárias e Ilhas Baleares. Ademais, Galiza segue a ficar nos últimos lugares na relação entre crédito e peso demográfico ou PIB. A percentagem do crédito total que se concede no nosso País só alcança os 3,76%, enquanto o nosso peso demográfico é de 5,69% e do PIB 5,3%. A relação entre crédito e peso povoacional fica apenas nos 0,66%. Pelo contrário, Madrid segue a ser beneficiada por um maior ratio crédito/povoação: 2,02%. Na evolução do número de oficinas bancárias, Galiza experimenta uma evolução homologável ao resto do Estado. O número de oficinas desde 2009 cai em mais da metade, em concreto nuns 59,01%. Perderam-se em total 1.480 oficinas bancárias. Devido à dispersão povoacional, o segundo maior índice de envelhecimento do Estado e uma grave fenda digital que afeta nomeadamente no meio rural com um défice de conexões rápidas de internet, a exclusão financeira derivada da desaparição de oficinas tem na Galiza consequências mais graves que noutros territórios. Deveríamos evitar que as nossas necessidades de financiamento dependeram exclusivamente da incerteza que deparam os mercados financeiros. É fundamental impulsarmos uma iniciativa pública que detenha o processo de descapitalização, contribuindo para facilitar melhores condições de vida à maioria social do nosso País. Uma entidade bancária pública que, ultrapassando as dificuldades da nossa economia para canalizar decisões de investimento produtivo, procure fornecer as condições necessárias para incentivar decisões de investimento direto nos nossos sectores produtivos, a participação social em sectores estratégicos como o energético, o transporte ou as comunicações; que forneça dum serviço de proximidade e evite a exclusão financeira de amplas áreas do nosso território, e contribua para o financiamento das políticas públicas, contrapesando as exigências dos mercados financeiros que com um estado que usufrui o nosso contributo fiscal, condicionam por sua vez a viabilidade das nossas decisões democráticas coletivas, afastando o exercício da nossa soberania nacional.