Viver num Estado sempiterno involuto
Atualmente, quando observas tudo o que está acontecendo, semelha que uma metralhadora letal fere-nos os ouvidos, com detonações atordoantes que nos abrem o peito. Afigura que os abutres doutros tempos estão aguardando o momento idóneo para quebrar-nos a jugular e cortar-nos as asas.
Atualmente, quando observas tudo o que está acontecendo, semelha que uma metralhadora letal fere-nos os ouvidos, com detonações atordoantes que nos abrem o peito. Afigura que os abutres doutros tempos estão aguardando o momento idóneo para quebrar-nos a jugular e cortar-nos as asas.
Enquanto a liberdade aparece como o melhor spot publicitário, emitido nos canais privados duma suposta comunicação pública. Mas nada. Possivelmente, seja um utópico sonho que flutua junto a nós. Criando fantasias belas, diversas. Só um devaneio!
Eu acho que desafortunadamente, seguimos a viver a mesma realidade autarca. Num Estado sempiterno involuto
Eu acho que desafortunadamente, seguimos a viver a mesma realidade autarca. Num Estado sempiterno involuto. No que a soberania, ainda hoje, assenta-se nos ossos da múmia soterrada em "El valle de los caídos". Creio que o putrefacto permanece indestrutível, governando e possuindo cérebros até em tribunais, supostamente imparciais e justos.
De facto, há alguns que emitem ditames às vezes absurdos, preceituados pelo sectarismo inextinguível. E isso me faz pensar que a autocracia persiste, está presente, muito viva.
Por uma estranha razão, negam-se a exumar ao ditador. Não acredito a teimosa objeção dos juízes, ao traslado da múmia a outro cemitério
Por uma estranha razão, negam-se a exumar ao ditador. Não acredito a teimosa objeção dos juízes, ao traslado da múmia a outro cemitério. O ininteligível empenho que têm em perpetuar a humilhação, o suplício. Mantendo a tumba do assassino ao carão das vítimas. A meu ver, este é um comportamento vergonhoso. Obviamente não há uma mudança real. Continua tudo igual.
Esta maneira de atuar, provoca que insolitamente haja uma fundação com o nome do ditador, beneficiando-se dumas subvenções, que no meu entender, não têm direito. Ignoro quais são as condições impostas para a sua conceção. Não obstante, assim de regularizado está o regime na nossa sociedade. As instituições fazem ouvidos surdos à dor dos represaliados e finalmente, ainda hoje, segue havendo uma permissão especial, uns privilégios próprios da ditadura.
As propriedades roubadas durante o seu longo governo ditatorial, incompreensivelmente ficam nas mãos dos descendentes. Como se duma herdade se tratasse. Essa apropriação indevida da oligarquia, estranhamente passa a ser consentida, legalizada.
Resulta incrível, que estas coisas aconteçam numa sociedade presumivelmente democrática. Semelha que os direitos e as leis, repartem-se como sempre, entre os membros dum regime ainda não extinto. Por consequência, seguem as vítimas nas cunetas, em fossas comuns, espargidas por toda a geografia estatal. E esta realidade, permanece bem camuflada nos âmbitos mascarados da perfídia.
Seria bom que se tomaram medidas e que se julgassem aos culpáveis dos crimes que se cometeram contra a humanidade
Seria bom que se tomaram medidas e que se julgassem aos culpáveis dos crimes que se cometeram contra a humanidade. Oxalá fosse possível!. Mas, na minha opinião, aqui construiu-se uma democracia no ar. Com os verdugos livres e condecorados. Com uma transição ideada, amanhada pela ditadura. Neste território, levantou-se o povo sobre o sangue, sobre os corpos dos fuzilados. Creio que essa é a autêntica realidade. Aqui, ainda que camuflada, persiste a opressão e apesar de que intentem convencer-nos do contrário; nem sempre a justiça é igualitária e justa.
Há uma data assinalada no calendário, mas tu, crês estar viajando numa máquina do tempo. Que te leva inexoravelmente a outra cena, a outra época.
O pensamento de Antonio Machado segue demasiado vigente nos nossos dias e as suas palavras ainda vagam pelo ar confiscado, oprimido:
(...) La España de charanga y pandereta,/ cerrado y sacristía,/ devota de Frascuelo y de María,/ de espíritu burlón y de alma quieta...
(...) esa España inferior que ora y embiste,/ cuando se digna usar de la cabeza,/ aún tendrá luengo parto de varones/ amantes de sagradas tradiciones/ y de sagradas formas y maneras;/ florecerán las barbas apostólicas,/ brillarán, venerables y católicas...
Do meu ponto de vista, isto mostra que a situação é preocupante e representa um grave retrocesso.
O Caudilho segue caminhando baixo palio. Com o beneplácito da igreja e das instituições.
E este virar para trás, provavelmente acontece porque o povo segue assentado, submetido ao autoritarismo do passado.