Eu acredito no divórcio

Muitas pessoas encaram o aumento das taxas de divórcio com o fim do matrimónio. E se olharmos por outra perspectiva?

Os motivos que levam ao matrimônio são diversos, e nem sempre o amor está entre as principais razões para um casal tomar esse passo. Há por exemplo a aceitação social; a pressão por parte da família e amigos; a necessidade de “legalizar” uma família (muitas vezes já constituída), entre tantos outros motivos.

Já o divórcio também tem varias razões para existir. Como uma pessoa que nunca foi casada, posso apenas especular tendo em conta as histórias de matrimônio e divórcio que vi e ouvi.

Parece que a instituição do matrimônio é algo perfeito e sagrado

Fala-se bastante na “decadência da família” quando se fala em divórcio. Parece que a instituição do matrimônio é algo perfeito e sagrado cuja inexistência irá automaticamente causar a extinção da espécie humana.

Para mim o divórcio é uma declaração forte, são duas pessoas a dizerem “Isto não é amor, eu não me sinto bem, eu não estou feliz e não foi para isto que eu me casei”. E de certa forma, isso também é uma forma de salvaguardar o matrimónio.

É uma forma de impedir que a instituição que é o matrimónio se corrompa, na medida em que protege o matrimónio de falsos amores e de cinismo desnecessários. É proteger o matrimónio de uma imagem falsa, irreal e que não corresponde às expectativas, promessas e cláusulas acordadas inicialmente.

Não podemos deixar de lembrar também que o direito ao divórcio foi uma grande conquista para as mulheres.

Cada vez mais mulheres se recusam a ser enganadas e abusadas pelos pais dos seus filhos. A verdade por detrás da decadência dos “valores da família” é que essa ilusão de estabilidade; perfeição e harmonia da família margarina tem como base o silêncio de muitas mulheres que sofreram (e sofrem) como reféns dos seus maridos.

Muitas dessas famílias ditas perfeitas só o são às custas da serventia das mulheres

Muitas dessas famílias ditas perfeitas só o são às custas da serventia das mulheres que carregam nas costas todo o peso para manter a casa em ordem. Muitas vezes são as esposas que, sem apoio emocional ou financeiro, criam os filhos com muitas dificuldades e ainda são humilhadas pelos maridos.

Nesses casos, as mulheres são reféns do acordo e dessa ideia prescrita pela sociedade. E a verdade é que à medida que as mulheres conquistaram mais espaço e poder foram ganhando confiança para destruir essas prisões.

Estando o matrimónio inserido na sociedade patriarcal, estará explícita ou implicitamente a permitir violências variadas sobre as mulheres, seja este religioso, tradicional ou civil.

E talvez isto sim deva ser questionado. Talvez o problema não seja o divórcio, mas sim o casamento.

Como é que as nossas sociedades vêem os casamentos? O que as duas partes têm como absentada construir essa tal família dentro da estrutura do matrimónio? Quais os comportamentos e valores esperados dos casados?

O divórcio pode representar a liberdade para muitas pessoas que vivem oprimidas nos seus casamentos

O divórcio pode ser uma porta para a possibilidade de crescimento e realização pessoal imprescindível para qualquer pessoa ser feliz. O divórcio pode representar a liberdade para muitas pessoas que vivem oprimidas nos seus casamentos. O divórcio pode permitir a constituição de uma família de relações saudáveis.

E acima de tudo, o divórcio protege os casamentos de uma realidade infeliz e desgastante.

Então como pode isso significar o fim do matrimónio?

Divórcio também é amor.

 

[Fonte: Escreve, Eliana, Escreve]