Tres coisas sobre virgindade que todos deviam saber

Nude Woman Reclining de Vincent Van Gogh

Tudo o que envolve sexualidade ainda é coberto por um nevoeiro espesso composto por tabus e mitos que nos impedem de ter relações saudáveis com os nossos corpos e com os corpos dos outros.

Para além dos riscos de saúde associados à falta de conhecimento sobre sexo, existe também toda uma lavagem cerebral feita para controlar os corpos das mulheres e com isso perpetuar slut-shaming [chamar prostituta] e victim-blaming [culpar á vítima].

No que toca à sexualidade feminina, é ainda mais difícil um debate construtivo e educativo que promova comportamentos sexuais saudáveis, já que se promove sobretudo a abstinência e a manutenção da virgindade.

Mas afinal, o que é virgindade?

1. Virgindade não existe 

Não existe. Virgindade é um termo heteronormativo que classifica sexo apenas como a penetração, excluindo todo o sexo que ocorre longe de formas fálicas.

Há várias formas de contacto sexual que não envolvem um pénis.

O conceito de virgindade está intimamente ligado à supressão da sexualidade feminina, apenas fomenta a ideia que pénis têm poderes mágicos de transformação

E agora, vem a pergunta: E o hímen? Pois é, o hímen! O hímen pode-se romper por uma série de factores como exercício físico ou masturbação; pode se romper na trigésima relação sexual e pode até nem existir! Se considerarmos apenas o rompimento do hímen, então quem não tem hímen permanece virgem? Os homens não têm virgindade?

Outra pergunta: E o tamanho da vagina não muda?

Claro que, sendo a vagina um músculo, a sua elasticidade depende da quantidade de esforço e exercício que lhe for pedido. E assim sendo, pouca actividade sexual significa uma vagina menos elástica que pode dar a sensação de contracção.

Para além do conceito de virgindade estar intimamente ligado à supressão da sexualidade feminina, apenas fomenta a ideia que pénis têm poderes mágicos de transformação.

A ideia que a desvirgindade muda o nosso corpo totalmente, de forma repentina e completamente irreversível é falsa.

2. Ninguém tira a virgindade de ninguém

É sempre vendida a Primeira Vez como um momento memorável e cheio de efeitos especiais. E acima de tudo, com alguém que “valha a pena” porque essa pessoa terá para sempre uma parte de nós e ficará para sempre na nossa memória.

Mas a verdade é que a Primeira Vez nem sempre é assim. Não tem de ser assim. O que deve haver é consentimento e vontade de ambas as partes. Dali para frente vai ser sempre melhor, vamos aprender mais e descobrir mais.

A percepção que virgindade é algo que se perde, reforça o mito de pureza da mulher, segundo o qual o seu corpo se desvaloriza e desvirtua sempre que for tocado de forma sexual.

Para nós, mulheres, o início da vida sexual, marcado pela Primeira Vez tem de ser milimetricamente avaliado e considerado, visto que estaremos a dar algo do nosso corpo que jamais será recuperada.

A percepção que virgindade é algo que se perde, reforça o mito de pureza da mulher, segundo o qual o seu corpo se desvaloriza e desvirtua sempre que for tocado de forma sexual.

Mas a verdade é que a relação sexual é a dois, consiste numa troca. Ninguém tira nada de ninguém – até porque não se pode tirar algo que não existe!

Então não se perde nada, só se ganha.

3. Desvirgindade não é um evento só

Assumindo virgindade como a acumulação de experiência  sexual, esse fenómeno não ocorre de uma única vez.

A desvirgindade, nesse sentido, é um processo. Isto é, deixar de ser virgem envolve toda a descoberta do corpo e da sexualidade, acontece em etapas através de várias experiências sexuais.

E fazem parte desse processo, todas as formas de expressão sexual, começando pela própria masturbação.

Nessa perspectiva, somos todos eternos virgens. Estamos todos em constante crescimento e descoberta no que toca à nossa sexualidade e em busca de mais formas de ter e dar prazer.

 

Artigo tirado do blogue https://escreveelianaescreve.wordpress.com