A livraria e alfarrabista histórica permanecerá aberta.

A batalha entre os livros e o SPA

Livraria Moreira da Costa

A guerra é entre o hotel cinco estrelas mais antigo da cidade e a livraria mais antiga. A decisão estava entre conservar uma livraria com 117 anos de história ou utilizar esse espaço para construir um SPA. E já há vencedor. De momento.

A livraria e alfarrabista Moreira da Costa, com 117 anos de história no Porto e com mais de 70 anos instalada no mesmo local, poderá permanecer após ganhar luta jurídica a Hotel Infante de Sagres que a queria despejar para construir um SPA. Esta aclamada “joia de charme” dos hotéis portugueses reabriu as suas portas em Abril 2018, após uma extensa restauração e renovação, que incluía a construção de um SPA com entrada prevista pela cave da livraria com a que comparte parede-meia.

Um hotel de luxo

Mandado construir pelo comendador Delfim Ferreira, o homem que nos anos sessenta do século passado possuía a maior fortuna de Portugal após enriquecer com os negócios da industria elétrica, e inaugurado em 1951, o Infante Sagres é considerado o mais antigo hotel de luxo do Porto, reclamando o título de primeiro cinco estrelas da cidade, e acolhe agora o primeiro Vogue Café da Europa. Era o alojamento portuense preferido por Mário Soares e ali dormiram vários membros da realeza europeia e outras personalidades, como Dalai Lama, Bob Dylan ou os U2.
O grupo de The Fladgate Partnership, que além do Infante Sagres detém também os hotéis The Yeatman Vintage House, é dono de casas históricas de vinho do Porto como a Taylor’s, Fonseca, Croft e Krohn, assim como das empresas de distribuição de vinhos On-Wine e Heritage Wines, manifestou não ter nada contra a livraria, mas entende que o Infante Sagres é uma joia da cidade no qual já investiu 10 milhões de euros na recuperação dos seus elementos históricos, tais como os magníficos tetos, sublinhando que o grupo fez, inicialmente, várias propostas à livraria para ajudar a encontrar soluções mas "agora, com esta decisão do tribunal, vamos analisar o que é possível para terminar o projeto".


Obélix contra o império


Em declarações ao Jornal de Notícias, os donos da Moreira da Costa manifestaram o seu contentamento pelo desfecho judicial: "Éramos a aldeia do Obélix a lutar contra um império e foi o apoio das pessoas da cidade que nos permitiu resistir nos últimos anos. Não foi fácil, mas cá estamos com a loja aberta."
É, sem dúvida, motivo de alegria para os donos e, segundo dizem, também para a cidade “Somos a livraria mais antiga da cidade, e as pessoas já a têm como deles e não como nossa, é da cidade” e apesar das muitas crises passadas, das obras no bairro, da conjuntura do país nos últimos anos, apesar de tudo isso, o casal à frente da livraria Moreira da Costa está pronto a ficar “mais 40 anos”  até porque “as pessoas estão a voltar às livrarias” e à procura do objeto físico.