O Texto do Hino galego: a urgência de recuperar o autêntico

Leio estes dias nos jornais que no Parlamento galego se constituiu a Comissão para estudar a modificação da letra do Hino, e não era sem tempo depois de que o 17 de outubro os três grupos da Câmara registassem uma petição conjunta neste sentido, um novo intento trás não prosperar em setembro uma Iniciativa Legislativa Popular avalada por mais de dezaseis mil assinaturas para restaurar o texto original. O tema é de grande importância, ao se tratar de um dos maiores símbolos que nos identificam como povo, e cujo texto divulgado contém diferentes erros por razões difíceis de expôr neste breve artigo, mas bem explicadas polo professor Manuel Ferreiro, experto na obra de Eduardo Pondal, em publicações específicas como De Breogán aos Pinos. O texto do Himno Galego (Laiovento 1997) ou mais recentemente em Símbolos nacionais da Galiza (Via Galega 2022). Os povos, países, nações do mundo, têm o seu hino, normalmente com letra e com música, ainda que alguns poucos, como o espanhol, careça de letra. No nosso caso, para além de ter letra e música, o Hino galego é de uma altíssima qualidade musical e literária, criado por duas das maiores referências da nossa história artística e cultural decimonónica: Pascual Veiga e Eduardo Pondal. E se o temos, deveríamo-lo cantar sem erros. Ainda que desde 1880 houvo várias propostas, o nosso hino como tal existe desde 1890, sendo Veiga –o músico mindoniense, que na altura presidia o "Orfeón coruñés nº 4"– o principal artífice da criação do Hino galego. De facto, é ele quem lhe solicita a Pondal –o poeta que representa o canto épico em que poetiza, diz Manuel Ferreiro, as origens míticas da pátria– a elaboração do texto, com o objeto de que "a maneira de Marcha Real, Marsellesa, etc., seja cantado em toda a Galiza com o entusiasmo que desperta no ânimo o Sentimento da pátria". Pondal escreve uma primeira versão do poema que envia a Veiga o 5 de abril de 1890, e este remete-lhe o dia 7 umas indicações rítmico-musicais que o poeta de Ponteceso terá em conta para a versão definitiva. Interpretado por primeira vez em Cuba em 1907, por vez primeira em Mondonhedo em 1912 e adoptado polas Irmandades da Fala em 1916 como hino nacional galego, a sua transmissão irregular em sucessivos ré-envios contribuiu a que o texto contenha erros diversos que urge corrigir, entre eles *cinguido por cingido, *mais por mas, *iñorantes por ignorantes, *sóo por sós, e alguns de especial gravidade por alterarem sensivelmente o significado: "valeroso *chan" em vez de valeroso clan, "o noso *ronco son" em vez de o noso rouco son ou "*féridos e duros" em vez de férridos e duros. O poema escrito por Pondal, que finalmente intitulou "Os Pinos", consta de nove estrofes de oito versos, se bem é certo que desde 1916 só constam –e só se cantam– as quatro primeiras como letra do hino. Um luxo poético-musical em qualquer caso. Esperamos que o texto original seja felizmente restaurado.