Se quigermos regenerar o galego

Se quigermos regenerar o galego, temos de restaurar em plenitude, para todos os registos da língua, os usos do futuro do conjuntivo (=subjuntivo), tempo verbal de grande expressividade que entre nós só no século XX esmoreceu, e nom de modo espontáneo, mas pola abafante pressom do castelhano (a poesia de Curros Henriques, p. ex., ainda mostra um uso freqüente e correto desta forma verbal, correlativo da sua presença na fala espontánea da época). A restauraçom do nosso futuro do conjuntivo (FC) é hoje imperativa –o Prof. Freixeiro Mato inclui-no entre as estruturas próprias do galego de qualidade– porque ela acarreta, por um lado, o reforçamento da personalidade do galego frente ao castelhano e, por outro, umha maior convergência com as covariedades lusitana e brasileira, o que, nesta altura em que a língua autóctone da Galiza está à beira da extinçom, se revela assaz importante. O uso do nosso FC encontra-se hoje em plenitude, é claro, no luso-brasileiro, mas também pode ainda detetar-se, como elemento fossilizado, em numerosos provérbios galegos. Trata-se de umha forma verbal que denota, com caráter hipotético, umha açom situada no futuro, mas anterior a outra açom significada por um verbo principal acompanhante (ex.: “Se beber(es), nom conduza(s)”). A gramática do FC é bastante simples e pode condensar-se nas glossas seguintes: a) Oito som os tipos de cláusula (subordinada) que podem alojar um FC, que surge em correlaçom com o verbo de umha cláusula principal, o qual só pode ser um futuro ou presente do indicativo ou um imperativo ou presente do conjuntivo (PteC): cl. concessivas duplas (na cl. subordinada, o verbo surge duplicado, primeiro no PteC e depois no FC: “Seja como for, venceremos!”), cl. condicionantes (“Se vinheres, jogamos”), cl. relativas (“Cobrarám aqueles que tiverem concluído o procedimento”), cl. temporais (“Quando a vires, será tarde demais”), cl. locativas (“Acomode-se onde puder”), cl. modais (“Fai-no como ela che dixer”), cl. comparativas (“Grita tanto como desejares”) e cl. proporcionais (“Quanto mais deres, mais receberás”); b) Como se vê, as formas do FC coincidem com as do infinitivo flexionado no caso dos verbos regulares (beber(es), desejares), mas nom nos verbos irregulares, em que as formas do FC partem do pretérito (for, vinheres [&lt; vir], tiverem, vires [&lt; ver], puder, dixer, deres); c) Consoante o explicado acima, nom é gramatical, está errado, combinarmos um verbo em condicional na cl. principal com um FC na cl. condicionante (*”Se for rica, compraria um carro desportivo”), de modo que, nessas oraçons puramente hipotéticas, o verbo da cl. condicionante deve surgir no pretérito do conjuntivo: «Se fosse rica, compraria um carro desportivo”. O uso do nosso futuro do conjuntivo encontra-se hoje em plenitude, é claro, no luso-brasileiro Por que a Rádio Galega e a Televisom da Galiza, em prejuízo da regeneraçom lingüística, nom utilizam o FC? Três circunstáncias podemos aduzir para explicar, mas nom justificar, essa grave omissom. Em primeiro lugar, pouca ajuda presta aqui a timorata exortaçom que, em favor da restauraçom do FC, a RAG=ILG efetua nas suas Nomig de 2003 (p. 109: “Dada a súa lexitimidade histórica e a súa rendibilidade en certos rexistros lingüísticos, como por exemplo a linguaxe xurídica, cómpre restaurar o seu uso”), a qual parece reclamar a utilizaçom do FC apenas na (arcaizante) linguagem jurídica, de harmonia com o castelhano. No entanto, é de justiça reconhecermos que alguns autores oficialistas estám a usar o FC nos seus textos, se bem que nem sempre com a correçom devida. Assim, um caso curioso é a peça “Se eu for Zapatero” do insigne escritor Méndez Ferrín (Faro de Vigo, 2.4.2004), a qual abre com a oraçom “Se eu for Zapatero [...], protexería (sen decilo) a oposición republicana [...]”, que exibe o lapso gramatical que descrevíamos em c)). Um esforço necessário Em segundo lugar, naturalmente, os redatores e apresentadores da RG e da TVG deveriam realizar um esforço –nom extraordinário, mas necessário– para aprenderem a usar de forma produtiva o FC, convenientemente instruídos e assessorados polos lingüistas adscritos a esses meios. E, em terceiro lugar, esses lingüistas deveriam abandonar umha atitude, comum entre filólogos oficialistas e que poderíamos alcunhar de caturrice idiomática, conforme a qual todos os avanços normativos de caráter regenerador (convergentes com o luso-br.), polo facto de nom se refletirem na atual língua espontánea, degradada, som encarados com desconfiança e na prática banidos da comunicaçom social, sob o pretexto da sua artificiosidade. Condiçom que, por sinal, esses lingüistas nom vem no uso e abuso, este si vincadamente artificioso e empobrecedor, do dativo pleonástico, de hiperenxebrismos como acadar, atopar e mercar, de neologismos de invençom como *engalar ‘descolar [aviom]’ ou *gromo ‘surto’, ou de dialetalismos como lapa ‘chama’!