Atitudes de menorizaçom

Talvez o leitor atento tenha reparado em que o nosso artigo anterior, de abril de 2024 (sobre lámpada e candeeiro), e o que aqui publicamos em setembro de 2023 (sobre lagostim e gamba-manchada) apresentam entre si notáveis ligaçons, apontando os dous para umha série de atitudes dos atuais codificadores da RAG(=ILG) que contribuem, nom pouco, para a menorizaçom do galego. Aqui, com menorizaçom referimo-nos, sobretodo, ao confinamento do nosso idioma num estado de subordinaçom formal e funcional a respeito do castelhano, processo que torna o gal. como que menor de idade (e redundante) em relaçom a essa potente língua foránea. A seguir, passamos em revista tais atitudes, implícitas nas duas peças anteditas. 1.ª- Umha atitude popularista, irracionalmente antielitista e, no fundo, demagógica e castelhanista leva os codificadores oficialistas a legitimarem em larga medida a degradaçom castelhanizante própria do gal. espontáneo atual e a renunciarem a umha restauraçom/habilitaçom de formas genuínas galego-portuguesas e a umha expurgaçom de elementos espúrios que reforçariam a coesom do gal. com o luso-brasileiro e a sua autonomia a respeito do cast. Isto, nos casos focalizados, acarreta: a) inibiçom na restauraçom plena de genuínos elementos morfolexicais: assim como nos casos emblemáticos de Galiza (ainda postergada pola RAG[=ILG] em benefício de *Galicia) e da terminaçom -çom de palavras como cançom ou geraçom (RAG[=ILG]: *canción, *xeración), a forma genuína lagostim, com o sufixo diminutivo patrimonial -im, é codificada por aquela como *lagostino, com um sufixo diminutivo espúrio -ino, próprio do cast.; b) homologaçom normativa de vocábulos que constituem crassos castelhanismos substitutórios, como *cigala 'lagostim, crustáceo da sp. Nephrops norvegicus', ou suplentes, como *bombilla 'lámpada elétrica' e *la(n)gostino 'crustáceo da sp. Penaeus kerathurus'. Pareceria que o galego é um brinquedo nas maos dos codificadores da RAG, os quais nom querem ou nom sabem regenerar o nosso idioma e emancipá-lo 2.ª- Umha atitude de resignado conformismo que aceita passivamente, de facto, a atual subordinaçom funcional do gal. ao cast., o que implica que os codificadores oficialistas, em geral, nom procuram, mediante umha intervençom proativa e eficiente, corrigir os aspetos de sub- e disfuncionalidade expressivas do gal. Isto se evidencia, nos casos focalizados, em que a RAG(=ILG) nom cunha neologismos para designar o crustáceo da sp. Penaeus kerathurus nem o utensílio que atua de suporte de lámpadas elétricas, para tal preferindo distorcer, desvirtuar e castelhanizar a esfera semántica de, respet., lagostin(o) e lámpada (o coerente com o princípio codificador 4.º das NOMIG seria, de harmonia com o luso-br., usar, respet., o neologismo de forma gamba-manchada [= camarom-grande] e o neologismo de significado candeeiro). 3.ª- Um escandaloso défice de inteligência lingüística tem levado os codificadores oficialistas a proporem soluçons neológicas tam evidentemente disfuncionais como *cobra 'cobra-capelo' (em colisom com cobra 'serpente'!), *flocos de millo 'pipocas' (em colisom com a natural denominaçom galega dos corn flakes!) e *a icona 'o ícone' (com obscena cacofonia!), e nos casos focalizados, tal limitaçom analítica leva esses codificadores a qualificarem de "formas menos recomendables" *cigala e *bombilla, quando, de facto, só elas duas, dentro da proposta oficialista, garantem, sob umha completa castelhanizaçom, esquemas designativos funcionais, inequívocos: *cigala 'lagostim' + *lagostino 'gamba-manchada' / *bombilla 'lámpada' + *lámpada 'candeeiro'! 4.ª- Indolência, impassibilidade, imobilismo dos codificadores oficialistas, que parece julgarem-se acima do bem e do mal, de modo que passam os decénios e os falhanços da codificaçom oficialista permanecem e nom som emendados. Um caso eloqüente: em 2006, no livro de atas das II Jornadas sobre Língua e Usos da UDC, publicamos um estudo em que descrevíamos relevantes problemas lexicais do gal. espontáneo e oficialista, entre os quais o de lámpada/candeeiro, e, nessa mesma publicaçom, surge também um trabalho de Manuel González, um dos dous Supremos Codificadores Oficialistas (sendo Antón Santamarina o outro). Pois atente-se: ainda hoje, a RAG(=ILG) nom deu soluçom efetiva a qualquer desses graves problemas lexicais que entom identificávamos! Pareceria, portanto, que o galego é um brinquedo nas maos dos codificadores da RAG(=ILG), os quais, autorizados polo poder político espanholista, nom querem ou nom sabem regenerar o nosso idioma e emancipá-lo, formal e funcionalmente, do castelhano. Nesse sentido, brutal instrumento de menorizaçom é a ortografia castelhana oficialista, mas também devastadora, como aqui vimos, é a maciça legitimaçom de neologismos castelhanos. Ambos som meios eficazes para o galego, em breve prazo, como Carvalho Calero denunciou, "ficar como um paxarinho".