Luitadoras mutantes

Com silhuetas de pau contaram a estória de um monstro rosa infeliz porque vivia no país dos passaros brancos e nada quadrava para ele: nem casas nem árvores nem paisagens. Ra de tres ollos / Olga de Dios / Tradução de Mónica Lourido / Apila Edicións / 2020 / 44 páxinas / 13,50 euros Todo branco e todo pequeno. E pirou e botou a andar e descobriu que no mundo não todo eram pássaros ou monstros, e não todos eram brancos massa ou rosa solitário. Deu com o bicho-bola, o pássaro amarelo, o monstro azul, a rã de três olhos… E aí parei a obra! - Como que a rã de três olhos? Essa não pode estar nesse conto que é deste outro álbum que eu tenho cá. E as sobrinhas saíram de trás do pano e olharam para a capa do livro: Ra de tres olhos, igualzinha à rã de três olhos que elas desenharam para a obra. Fizemos assim duas descobertas partilhadas: elas, que havia segunda parte do Monstro Rosa, eu (inorantinha), que Ra de tres ollos fazia parte de uma saga da que as crianças gostavam como para fazê-la teatro numa quarentena. Ra de tres ollos chamou por mim pola sua presença gráfica. Com essa tripla vida ocular pensei nas criaturas mutantes de Chernobil ou o napalm. Porém, na capa, a rã mutante está a saltitar e sorrir e isso já ma fez atrativa. Rã de três olhos cria-se numa poça de água suja sob uma grande nuvem gris. Os bordos do estanque são em realidade um vertedoiro descontrolado com refugalhos de toda caste a ocupar o lugar de plantas e arvoredo. Ela aprende a viver assim e parece-lhe natural. Usa fato de banho para a água contaminada não a lastimar tanto e já. Mas quando aprende a choutar bem bem alto descobre que a nuvem gris não é nuvem mas fume. E decide procurar a origem até ela chegar à grande fábrica de cousas. Com ajuda dos outros bichos que povoam a coleção, o monstro rosa, o bicho-bola, o pássaro amarelo, o monstro azul, fará força para mudar a situação e com ela a poça e o mundo. A estrutura do conto é a mesma que a do Monstro Rosa, mesmo com um elemento comum: a nuvem. Uma personagem que vive a desgosto, que empreende uma viagem e que encontra, através das amizades, a solução ao problema inicial. Como é uma obra dirigida a criancinhas, a estrutura reiterativa facilita o seu achegamento e familiaridade. As ilustrações enriquecem o texto e podem gerar novos diálogos durante a leitura partilhada, comparando as lâminas iniciais e finais de poça e fábrica, por exemplo. Sejamos rãs mutantes das que mudam o planeta.