Librum magnificus

Mas este não é um país normal e a Lei Paz Andrade é papel molhado e por isso a maioria chegará ao Plasticus Maritimus por meio doutra excelente editora, Kalandraka, que fez a edição em galego autonómico. Plasticus maritimus / Ana Pêgo /ilustrações de B. P. Carvalho e I. Minhós / Kalandraka / 2020 / 176 páxinas / 18 euros Plasticus Maritimus, unha especie invasora, é um tratado de etologia que nos permite aceder ao comportamento alimentar, reprodutivo e social de um bichinho mutante e novo nos nossos ecossistemas: o plástico. A autora, como não, é uma científica de renome, que leva anos a estudar este animal, seguindo as suas pegadas polas praias portuguesas, localizando zonas de nidificação, de desove, de caça e mesmo santuários mortuários. Como manual prático que é também nos oferece a autora conselhos para as nossas saídas de campo na procura de exemplares, propostas para recolher mostras de interesse, histórias curiosas e mesmo encalhamentos extraordinários. E como qualquer guia de natureza que se preze vem acompanhada toda a informação com ilustrações e fotografias que nos permitem identificar tanto características anatómicas como subespécies e habitats concretos. Ana Pêgo soube converter um problema grave como a da contaminação plástica de mares e oceanos numa experiência de leitura divertida, agradável e, o mais importante, motivadora. Uma vez que fechas a última página do livro, mesmo antes, só sentes vontades de apanhar os sacos, o coador, os frascos, as luvas e a navalha e procurar uma praia para limpar, com a esperança de dar com estranhos exemplares que partilhar na rede de crebeiras que une a internet. E estudar. E fotografar. E artistar. E não usar mais plástico inútil e convencer a todas as vizinhas e amigas de que não façam. A obra combina inteligentemente alarma e esperança. Com dados objetivos fai-nos ver que o problema ambiental é sério, global e de solução complicada. Ao tempo, convence-nos de que mesmo nós, exemplares insignificantes de homo sapiens, podemos contribuir grandemente à sua solução. Adoramos que, como boa naturalista, a autora não demonize a espécie que estuda, mas só o seu carácter invasor em usos desbotáveis. E lendo pega-se-nos o olhar etólogo para descobrimos uma nova espécie: o librus magnificus.