Un gato é um micho (ou não)

C omo levamos uma tempada em que chovem gatinhas viageiras que fazem teatro, mesmo é possível que tenhamos que organizar um Congresso Galego de Autoras e Gatada. Enquanto as instituições várias que leem esta coluna se põem ao assunto, contaremos-vos nós doutra gatinhada recém chegada: a que acolheu, na casa e nos livros, Pilar Pallarés. É uma alegria que a poeta, após ganhar tudo com o seu Tempo Fósil, mesmo o Nacional de Poesía, escolha o leitorado infantil para a sua seguinte obra. Os protagonistas não são novos: já habitavam três gatinhas, ou mais, naquele Alvedro fossilizado. Só que agora invadem os quartos, os versos, chegados da rua, do monte, dos contentores de lixo, abrem gavetas e estram pola casa os papeis em que são riscados os poemas. As humanas pouco podem fazer perante isto: deixar correr uma caneta e que as gadoupas escrevam a sua própria história. Unha boa gatucada está protagonizada por Leo, um cativo com bigode e quatro patas. Aprende a viver num andar de cidade e passa de ser o rei da selva, ou acreditar que o é, a ter que partilhar o espaço com outras criaturas gatunas, felinas, (mamí)feras. Leo não conta outra cousa que a sua vida de gato, as suas aventuras para conhecer o mundo, como se tem que adaptar às novas companheiras e como convive com elas (e a humana). O protagonismo centram-no ele (voz que fala, olho que olha, focinho que ule) e três gatas, Ofelia, Romi e Maga (as três gatinhas do Tempo Fósil?). A relação que o Leo estabelece com cada uma delas é diferente e isto favorece que xs vejamos como personagens com entidade própria. Os poemas variam em longitude, mas não em dous elementos comuns: o humor e o controlo da rima. Leo é um gato rimador, imitador de 2 Pac, mas ao tempo, gosta de dar brincos e pincha-carneiros com encavalgamentos que nos obrigam a calmar a leitura. Unha boa gatucada deita uma visão sensível às outras criaturas que habitam o planeta. Embora as protagonistas sejam animais personificados, não deixam de manter a sua identidade gatuna e falam para nós desde a felinidade: não procuram princesa para casar mas ovos para escachar ou um canalão para rubir. A autora consegue que Leo pareça gato, mesmo poeta. Gato sabido, como muitos que conhecemos, e que de quando em vez recebem a rabunhada de Ofelias ou Magas. E faz-se evidente que a mudança dos nossos modos de vida faz dos gatos novo animal totémico.Lá vai a vaca, Castelao nos desculpe.