O elefante e o chapéu

@page { margin: 2cm } p { margin-bottom: 0.25cm; line-height: 115% } O principezinho, ou o piloto, desenhou um rascunho no caderno. Que é? Um chapéu. Não: uma cobra com um elefante dentro. E ficamos a pensar nos adentros, nos foras, no aparente e no real. Na imaginação. No ovo / Emma Lidia Squillari / Tradución de Xosé Ballesteros / Kalandraka / 2020 / 40 páxinas / 15 euros Como numa espécie de homenagem, Squillari, propõe-nos adivinhar que pode haver dentro de um, dous, três, n ovos. Sendo a mesma figura, variam os tamanhos, as cores e, claro, as habitantes interiores. Um peixinnho? Uma tartaruga? Uma píntega? Um papo-ruivo? Uma dessas criaturas, não sabemos qual, vai-nos contando a sua historia: a quenturinha do início, o espaço amniótico nadável e tépido, o crescimento inevitável… a casca rompida e a ninhada de feios parrulos tão diferentes. Duas cousas descobre o animalzinho narrador: que não está sozinho no mundo e que as outras criaturas são todas distintas dele e entre si. E passamos as páginas e jogamos a conhecer esses animais ovíparos: anfíbios, aves, répteis. E passamos as páginas e vemos como crescem e crescem e invadem os brancos da lâmina. E passamos as páginas e, de súbito, reparamos em que faltam anfíbios, faltam aves, desaparece o pinguim, some o ornitorrinco, assusta-se a pita. Porque passam as páginas e quem cresce e engorda exageradamente não é outra que a narradora, a serpe pitão, que nasceu com uma fome gigante dificilérrima de apagar. Mas não nos incomodemos. Ela não é má, é que foi desenhada assim, seique. Este álbum ilustrado é uma delícia em muitos sentidos. O primeiro, o do humor. Adoramos os traços dos bichos com esses olhos enormes e os sorrisos nos peteiros. Parecem dispostos a contar um conto acarinhador, de bebés e infâncias suavemente balouçadas em uma metáfora, como tanta literatura para crianças. Parece pensado para sentarmos e responder à eterna pergunta do ovo e a galinha. E aprendermos a diferenciar tipos de animais. E aprendermos a observar (Que é? Onde está? Que mudou? Em que se parece às outras?) O texto leva-nos por outros espaços. Quer preparar-nos para o final. Mas centra-se no primeiro encontro da criatura narradora com as outras e se foi ou não educada (ela duvida) e saudou adequadamente e pediu licença para a(r)mar. Quando a surpresa da depredação acontece, já é tarde. Já gostamos da pitão, das suas primeiras expressões estranhadas e a sua progressiva satisfação. E rimos da nossa inocência leitora. E voltamos atrás e aprendemos a restar, a re-observar (re-ler) e procurar o alimento primeiro e a sua sombra na barriga. Como no chapéu do principezinho.