Alma de país

Mais esta chegou, se calhar, arredor do autor que mais o precisava. Nom por este apresentar um currículo exíguo ou umha produçom literária de menor altura à doutras homenagens. Todo o contrário. Coraçom de terra / Xico Paradelo, Irene Veiga e Iván Suárez / Através Editora / Demo Editorial / 2020 / 20 euros / 124 páxinas O alcance e dimensom da figura de Carvalho Calero constituíu, já desde os anos 70, umha preocupaçom para todos aqueles que tomárom posiçom contra a defesa da unidade lingüística galego-portuguesa de que Calero é peça referencial. O escurecimento da sua pessoa e obra tem sido umha constante que só a pressom cada vez mais intensa e firme de numerosos setores culturais e sociais está a conseguir reverter. É por isso que, na necessidade de outorgar a Carvalho Calero o reconhecimento que se merece, a banda desenhada tem um papel relevante ao apresentar vários níveis de leitura que permite alargar o público recetor. Assi, podemos passar de um nível básico que pode prestar a alguém alheio ao autor recriado, até um nível complexo onde o conhecedor da obra e vida do erudito polígrafo de Ferrol pode gozar de todo um repertório de piscadelas intertextuais e históricas. Um dos maiores méritos de Coraçom de terra é como resolve e peneira umha ingente quantidade de informaçom e material para o achegar ao leitor de umha maneira precisa e fluída. Isto nom quer dizer que esta nom seja umha obra que convém degustar aos poucos, observando todos os pormenores que som transmitidos; lugares, personagens e situaçons vam sucedendo-se com um ritmo pausado, recapitulando a trajetória vital do autor ferrolano. Todo um convite à pesquisa de todos os pequenos elementos que componhem um mosaico social e cultural de enorme bagagem. No entanto, merece especial atençom a jeira ficcional da narraçom, encarregada de mergulharmos nos aspectos possíveis de quem percorreu grande parte do século XX e que nos obriga a imaginar causalidades e casualidades da história da literatura galega, essa mesma que Carvalho daria ao prelo na que é, sem dúvida, a obra de referência nos nossos estudos literários. A poesia, que nos acompanha em toda esta andaina, completa umha banda desenhada expansiva, que acaroa as artes, memória e magim, mas que, sobretodo, dignifica e recompom umha das figuras esenciais da nossa literatura e da nossa história, um desses vultos da cultura galega que conforman a verdadeira alma deste país.