Madrid capitaliza o poder

A presente capitalidade integral de Madrid é resultado de uma peculiar evolução histórica e do concurso de uma série de elementos e fatores específicos, que como afirma Oscar Pazos no seu livro Madrid es una isla, desde a sua eleição como capital espanhola na dinastia dos Aústrias, constituiram-a em centro de consumo de bens de luxo de ultramar e de alimentos com preço intervido, desincentivando o cultivo das terras próximas que iam ficando ermas. Desconectada economicamente do seu âmbito geográfico e ilhada das principais rotas comerciais converteu-se em núcleo referencial do estado, sede dos poderes político, executivo, legislativo, judiciário, do comando militar e do corpo diplomático. O seu desenvolvimento no século XIX teve origem na decisão política de dota-la de novas prerrogativas, primeiro como ágora central da cultura espanhola e depois como cerne industrial,o que facilitou a concentração do seu poder e a absorção da riqueza produzida no resto de um estado que deviria em estrutura corporativista e autoritária, burocrática e clientelar. Como explica o economista catalão Germá Bel no seu Espanya capital París, o afão por emular a França, impulsou um programa político que prevaleceu sobre a racionalidade econômica, estabelecendo Madrid como nodo central dos transportes e as comunicações. Desde a designação por parte de Felipe V em 1720 de seis carreiras de postas como “carreiras reais” até a atual rede de alta velocidade ferroviária, as autovias ou o desenho aeroportuário, o estado investiu todo o seu esforço em fazer de Madrid o centro radial por onde todo devia passar. Projeto não isento de fracassos, que longe de emenda, devirom em maior recentralização. A metrópole madrilenha O Laboratório de Análise de Políticas Públicas do Instituto Valenciano de Investigações Econômicas, no seu informe Madrid: capitalidad, economía del conocimiento y competencia fiscal esclarece como Madrid tem superado hoje o contras senso histórico entre os planos político e econômico, transformando-se em moderna metrópole, com um próspero sector privado que concentra importantes centros de produção industrial,e um dominante terceiro sector caracterizado por uma ampla e especializada oferta de serviços intensivos em conhecimento. O crescimento demográfico,que desde a segunda metade do século XX valeirou o resto de províncias do centro peninsular, alcança hoje o 14,2% da população estatal com quase 6,7 milhões de habitantes, triplicando a de há cinqüenta anos e concentrado-a em apenas o 1,6% do território. No mesmo período, o aumento da renda superou a media estatal atingindo quase o 20% do total, situando a sua renda per capita no primeiro lugar das autonomias. A inovadora obcecação pela “unidade de mercado” oculta trás si a manifestação moderna de uma histórica e depravada obsessão supremacista A capital castelhana conta com uma ampla oferta formativa, força de trabalho de alto nível de qualificação, menores taxas de desemprego, diversificadas oportunidades laborais e um mercado de alto poder aquisitivo. Aliás, a aplicação de políticas fiscais regressivas atraio deslocamento de novos patrimônios e rendas altas constituindo um pólo de atração residencial. Beneficiada do chamado “efeito sede” reúne a maioria de organismos e entidades públicas empresariais concentrando grande parte do emprego estatal; congrega o maior número e faturação de grandes empresas atraindo o investimento, nomeadamente o especializado nas TIC’s; e é centro financeiro, dos mídia e das principais entidades científicas, artísticas e culturais, oferecendo a maioria do emprego qualificado. O apoio do Estado a Madrid O ascenso madrilenho tem hoje o seu motor na economia privada,com um permanente apoio do Estado a seu favor graças ao investimento em novas e importantes infra-estruturas de transporte terrestre e aéreo, que afunda a sua estrutura radial, e situando-os centros de decisão do estado à beira dos empresariais,o que facilita a adjudicação dos contratos públicos às grandes corporações sediadas em Madrid. As conseqüências do neocentralismo não podem ser mais negativas para Galiza. A capitalidade total madrilenha,o delírio nacionalista espanhol que roça a obscenidade e o controlo fiscal da UE agravam a nossa ja precária situação. A inovadora obcecação pela “unidade de mercado”oculta trás si a manifestação moderna de uma histórica e depravada obsessão homogeneizadora,de imoderada natureza supremacista e colonial. O estado, com Madrid à sua cabeça, obstina-se no desrespeito da diversidade lingüística e cultural e dos direitos nacionais e históricos. Como recolhia Xacobe Ferreiro nestas mesmas páginas, a fugida de empresas para a supercapital, Madrid é a sede fiscal de mais de 4.300 empresas com atividade na Galiza, provoca um estrago fiscal devastador. O medre madrilenho vai parelho a nossa decadência histórica. Discriminada na atração de investimentos, fornecedora líquida de recursos financeiros e das nossas poupanças, de matérias-primas, mão de obra e energia, etc., sofremos um estado de emergência que segundo o IGE levará a perdermos o 6,6% da população nos próximos 15 anos. Nas nossas mãos está reverter dita situação.