Chaves da economía chinesa (II)

Antes da crise de 2008 o governo tomou medidas redistributivas para combater as desigualdades, aumentar o poder aquisitivo de camponeses e trabalhadores e potenciar a oferta dirigida para o mercado nacional. Pretendia-se um crescimento baseado na demanda. A reforma laboral e o incremento dos salários mínimos diminuíram a desigualdade campo-cidade e deslocaram produção para zonas menos desenvolvidas e outros países da região. Também se fomentou o desenvolvimento científico e a inovação para melhorar posições na divisão internacional do trabalho. Mas a vulnerável inserção na economia mundial e a queda das exportações pelo colapso dos mercados, ligada ao incremento de preços das matérias primas, bateram forte na sua competitividade. A aparente fortaleza econômica colidia com o baixo nível relativo do valor acrescentado pelo aparelho produtivo, que ficava longe do gerado nas economias centrais. Plano de estímulo Implementa-se, então, um plano de estímulo de 500.000 milhões de euros, que investe em infraestruturas, sustenta setores estratégicos, financia o consumo privado, e consegue manter o crescimento a uma taxa media anual dos 10% entre 2009 e 2011. O resultado é o incremento dos preços agrícolas, diminuindo a fenda entre as rendas rural e urbana. A fabricação com baixos custos laborais desvia-se a zonas deprimidas, detendo a migração às cidades e produz-se um aumento do peso global dos salários na renda nacional. Também se consegue elevar a competência tecnológica e rebaixar as exportações netas. De 2007 a 2015 o índice de Gini cai 2,5 pontos. Doutro lado, o vigoroso crescimento chinês aumenta a contenda pelo acesso a matérias-primas e China opta por assinar acordos de livre comércio e adquirir terras noutros continentes. A dependência exterior reduz-se mais graças ao investimento que a alavanca do consumo interno. Grande parte do enorme excedente comercial obtido no mercado exterior é investido na compra de títulos do tesouro estadunidense, provocando mútua dependência entre a China e EUA. O escasso valor da dívida, devido ao déficit da balança externa americana, faz desistir China de vende-la, porque geraria uma forte crise no seu segundo cliente comercial depois da UE. Por isto esquiva o questionamento da hegemonia dos EUA, limitando a sua capacidade de reconduzir recursos para fortalecer decisivamente o mercado interior. Limite e conflito Contudo, a reorientação afronta também limites internos. Produz-se uma sobre acumulação de capital que ameaça a rendibilidade e surgem conflitos sociais contra a corrupção na expropriação de terras, greves na indústria exportadora e protestos contra a degradação ecológica, que somados ao confronto entre distintas correntes do Partido, poderiam instigar uma crise política e debilitar a sua capacidade de liderança. De fato, a partilha desigual do poder resultante do XVIII Congresso do PCCh (2012-2013), favorece a fação de Shanghai, próxima ao próprio presidente Xi Jinping,que representa ao empresariado frente à Liga dos Jovens Comunistas que advogam pela redistribuição da renda e a proteção de direitos sociais. Destarte, foram impulsadas mais privatizações e iniciou-se a liberalização da política monetária e a convertibilidade do “yuan”, que atraiu capitais espespeculativos a espera da sua apreciação. O Plano Qüinqüenal 2021-2025 O XIV Plano Qüinqüenal 2021-2025 busca um duplo desenvolvimento: seguir a potenciar o mercado doméstico junto ao relacionamento externo, e partilhar a prosperidade para vencer desigualdades sociais e territoriais, apoiando-se no progresso tecnológico, a harmonia com o médio ambiente e o atendimento das necessidades rurais. Numa economia mista de pleno caráter transitório, que ainda se reserva a opção pela socialização dos meios de produção, a contradição entre o capital internacional e a classe trabalhadora chinesa fica ao arbítrio duma burocracia a jogar um rol crescentemente contraditório. Afinal,será homologada às economias capitalistas ocidentais? Ou irá manter o seu projeto autónomo, na disputa por elucidar que sistema consegue enfrentar melhor as desigualdades? Diversos movimentos sociais e parte do próprio Partido dirigente, reconhecem a necessidade de novas reformas que neutralizem os efeitos perniciosos derivados da abertura econômica. A superação da pandemia validou a sua capacidade para responder ante imprevistos mediante eficazes programas de ação, e segue a manter com mérito a sua independência política. Em vindoiros anos descobriremos se a soberania nacional servirá aos interesses do povo trabalhador chinês ou será sacrificada no altar dos mercados.