A AELG nomea José Luandino Vieira "Escritor Galego Universal"

Luandino Vieira (Imaxe: YouTube)

A Associação de Escritores e Escritoras em Língua Galega acordou em assembleia geral proclamar em 2021 o angolano José Vieira Mateus da Graça, conhecido por José Luandino Vieira, Escritor Galego Universal.

Luandino nasceu em Lagoa de Furadouro, Vila Nova de Ourém, em 1935, acompanhando os pais para Angola aos três anos. Seguiu estudos primários e secundários em Luanda e envolveu-se no movimento de libertação nacional, escolhendo o nome de Luandino como homenagem a Luanda.

Acusado de ligações políticas com o Movimento Popular de Libertação de Angola, MPLA, foi preso em 1959 pela PIDE, no chamado “processo dos 50”. Voltaria ser detido em 1961, desta vez condenado a 14 anos de prisão e medidas de segurança. Transferido em 1964 para o campo de concentração do Tarrafal, Cabo Verde, passou aí oito anos, até obter em 1972 o regime de residência vigiada em Lisboa.

Em 1975, após a independência do seu país, nacionalizou-se angolano. Regressou a Luanda em 1975, onde exerceu cargos diretivos no MPLA e foi presidente da Radiotelevisão Popular de Angola. Membro fundador da União dos Escritores Angolanos, exerceu funções de secretário-geral deste organismo desde a sua fundação em 1975 até 1992. "E agora, desde há alguns anos, é nosso vizinho, perto do pai Minho, correligionário e já para a vida Escritor Galego universal", diz a AELG.

Luandino Vieira foi distinguido com prémios como o da Sociedade Portuguesa de Escritores (1965), da Sociedade Cultural de Angola (1961), da Casa do Império dos Estudantes de Lisboa (1963) ou da Associação de Naturais de Angola (1963).

A partir de 1972, residindo em Lisboa, iniciou a publicação da sua obra, na maior parte escrita nas prisões por onde passou. Recusou em 2006 o Prémio Camões, o maior galardão literário para a língua portuguesa, “por motivos íntimos e pessoais”, que pareciam prender-se com o seu silêncio. Quebrado este com O livro dos rios, novo romance que até iniciou uma trilogia intitulada De rios velhos e guerrilheiros.

A sua obra

A sua obra, numa primeira fase e até 1962 (reunida em Vidas novas), é de conformação mais clássica, dando passagem com a escrita de Luanda a uma segunda etapa, absolutamente renovadora. Nela, em que também se insere Nós, os do Makulusu, é quando começa a inserir marcas de angolanização da língua portuguesa, subvertendo a norma padrão e adotando registos populares, orais e tradicionais africanos.

A AELG informa que "sua voz literária encontra a partir daqui um tom singular". "As estórias que escreve, mais longas que o conto sem alcançar as dimensões da novela ou romance, podem invocar o molde do mussosso, narração com peripécias frequentes, fábula ou narrativa moral africana tradicional. Porque o que Luandino faz a partir deste momento é uma deconstrução da língua erudita do colonizador, inseminando quimbundo a nível de vocábulos crioulizados, mesmo neologismos, prolongando a oralidade, tocando até na sintaxe", acrescenta.

De entre as suas obras destacan, em romance, A vida verdadeira de Domingos Xavier (1961 e 2003), João Vêncio. Os seus amores (1979 e 2004), Nosso Musseque (2003), Nós, os do Makulusu (1974 e 2004), O livro dos rios (2006), O livro dos guerrilheiros (2012).

Os contos som A cidade e a infância (1957 e 1986), Duas histórias de pequenos burgueses (1961), Luuanda (1963 e 2004), Vidas novas (1968 e 1997), Velhas histórias (1974 e 2006), No antigamente, na vida (1974 e 2005) e Macandumba (1978 e 2005) emtre outras.