Mulher e mocidade galega en desvantagen

Nesta terceira resenha focámo-nos na situação de iniquidade sociolaboral da maioria da sociedade galega, quase o 65% da população, composto por dous coletivos que sofrem discriminação etária e de género. Na comparativa das variáveis utilizadas priorizamos o período 2009 -2019 para isolar os efeitos da crise pandémica. Entre 2009 e 2019 as taxas de atividade e ocupação aumentaram levemente, alcançando o 49,1% e o 42,8%, mas ficaram por debaixo das masculinas que atingiram um 57,6 e um 51,4% respetivamente. O desemprego feminino em 2019/4T foi do 13,3% frente o 10,7% do masculino e o 7% na UE. O 52,5% dos 145.900 desempregados correspondia a mulheres. Dados mais preocupantes de considerarmos a sua expulsão do mercado de trabalho pela pressão social exercida sobre a mulher galega para ser quem de cobrir as necessidades de cuidados no entorno familiar. Por ramas de atividade, os serviços são um sector claramente efeminizado. Nomeadamente a restauração, o ensino e as atividades sanitárias, com taxas de feminização do 61,1; do 69,8 e do 78,1% respetivamente, destacando o nível de precariedade que caracteriza algum destes subsetores. Respeito à temporalidade dos contratos persistem também diferenças de género: menos mulheres que homens com contrato indefinido, e mais mulheres com contrato temporal. O aumento no número de contratos indefinidos a mulheres no período entre 2009 e 2019, anterior à pandemia, tem sido do 34%, enquanto os temporais aumentaram num 58%. A percentagem de contratos indefinidos sobre o total segue a cair e situava-se em 2019 no 7,8%. O número de contratos temporais femininos é tão alto, 479.048 contratos em 2019, que se o dividimos pelo número de mulheres assinantes desses contratos, que foi de 121.600 no mesmo ano, obtemos uma meia de 4 contratos por trabalhadora e ano. A percentagem de mulheres que trabalham a tempo parcial em 2019 é do 23,8% frente ao 7,1% dos homens, enquanto os contratos a tempo completo assinados por mulheres representam o 76,2% frente ao 92,9% dos masculinos. A evolução até hoje é negativa: existe uma maior percentagem de mulheres trabalhando a tempo parcial e menos a tempo completo em 2022 que em 2009. A taxa de desemprego juvenil para os menores de 25 anos aumentou na Galiza de 31,46% em 2009 para 34,88% no segundo trimestre de 2022 Ainda, melhorando desde 2009, a fenda salarial, continua a ser significativamente elevada: de 20,5% em 2019. A redução em termos absolutos é apenas de 10%, a uma média de 46 € anuais, durante o período 2009 - 2020. Porém, esta reduzida diminuição da fenda salarial é devida ao pioramento relativo dos salários masculinos desde a crise do 2008, mais que a uma verdadeira convergência salarial e a melhora das condições laborais da mulher. Para um focamento de género e intervalos de salário, não distorcido pela pandemia, observamos para 2019 a concentração do maior número de mulheres nos estágios salariais menores. Destarte, o 87% das mulheres percebe um salário entre 0 e 1,5 vezes o SMI. E como resultado da precariedade laboral, a taxa de risco de pobreza da mulher galega tem aumentado nos últimos anos. De estar por debaixo da meia em 2016, ultrapassou-a desde 2018: de 15,82% em 2016 ao 16,78% em 2020, afetando em maior medida a mulheres mais jovens, nomeadamente as de 16 a 24 anos, com um risco de pobreza de 25,78%. Ademais, a meia e a mediana de rendimentos familiares, segundo sexo, apresenta uma fenda notável que, embora se tenha reduzido na última década, em 2020 ainda atingia cerca de 19% e 17%, em rendimento meio e na mediana, por debaixo dos valores correspondentes ao homem. Mocidade Podemos sintetizar o evoluir das variáveis do mercado laboral na queda da taxa de atividade da mocidade entre 16 e 29 anos desde o 60,81% em 4T/2009 ao 44,91% em 2021, enquanto a taxa de inatividade aumenta do 39,2% a uns 55,1% no mesmo período. A ocupação cai também num 44,7% até 2021. Segundo dados do INE, a taxa de desemprego juvenil para os menores de 25 anos aumentou na Galiza do 31,46% em 2009 para o 34,88% no segundo trimestre de 2022, superando a meia estatal do 28,52% e multiplicando por duas vezes e meia a da UE-27. Observa-se igualmente uma elevada rotação laboral das pessoas jovens graduadas, que indica precariedade e instabilidade laboral, à medida do crescente papel da internet na busca de emprego, em detrimento do recurso aos serviços públicos de emprego. Neste contexto, não surpreende a dificuldade de acesso à independência económica e habitacional. No segundo semestre de 2020 apenas o 17,1% da mocidade galega residia fora do fogar familiar. Embora, o seu alto nível formativo, à hora de aceder ao mercado laboral, a nossa mocidade enfrenta a triste e complexa escolha entre, ficar na terra para trabalhar em precário, continuar os estudos, ou emigrar na busca de oportunidades dignas para desenvolver o seu potencial profissional. Em resumo, precariedade laboral, dependência familiar e emigração. Entretanto, uma Galiza sem igualdade de género e sem mocidade é uma nação sem futuro, que esmorece paulatinamente ao arbítrio de decisões forâneas.