Opinión

Carvalho Sempre

Neste 2020 completam-se 30 anos da morte e 110 anos do nascimento de Ricardo Carvalho Calero. É precisamente em 2020, após duas décadas de reclamaçons procedentes de diversos coletivos culturais para dedicar o Dia das Letras a Carvalho Calero, por méritos bem conhecidos e indiscutíveis, o ano em que a Real Academia Galega se viu obrigada a asumir a homenagem que o povo galego deve a um dos seus grandes filhos. Homenagem que chega com vinte anos de atraso, pois foi a partir do ano 2000, dez anos depois do seu falecimento, que a dedicatória do Dia das Letras se podía ter producido, só o sectarismo da RAG o impediu.

Precisamente desde o ano 2000, por iniciativa da Fundaçom Artábria, diversas instituiçons e associaçons solicitavam este reconhecimento para umha trajetória ao serviço dos ideias da soberania nacional e da esquerda, junto ao seu compromisso com o idioma e a língua no nosso país. Ideias que mantivo com dignidade, apesar das dificuldades e da repressom fascista, bem como da posterior marginalizaçom imposta polo estreito autonomismo nascido a inícios da década de oitenta.

Foi em 2007 quando a nossa entidade lançou a primeira campanha explícita para reclamar um Dia das Letras, o de 2009, para o nosso vizinho. Aí começou também a série consecutiva de negativas da RAG a essa e a cada umha das petiçons que posteriormente realizárom outras entidades do País.

A atitude da instituiçom sediada na rua Tabernas da Corunha levou-nos a reflexionarmos sobre ceder ou nom à RAG umha centralidade que nom merecia e que o próprio ferrolano tinha questionado em vida. Finalmente decidimos dedicar as nossas forças e o nosso humilde trabalho militante a outras tarefas, desenvolvendo todo o tipo de atividades de promoçom da figura e obra de Carvalho Calero, em solitário ou em colaboraçom com outros muitos coletivos locais e nacionais, sem faltarmos nem um só ano à nossa cita cada mês de março diante das ruínas da sua casa natal.

Nom temos, portanto, nada que agradecer à Real Academia Galega, que deverá acrescentar à sua história a vergonha de negar durante duas décadas a homenagem devida a Carvalho Calero, polo simples facto de ser reintegracionista.

O tecido associativo de base que durante esta década reclamou o reconhecimento oficial de Carvalho Calero nom o fijo para convencer a RAG de nada. Figemo-lo para garantir que as ideias de Carvalho, compartilhadas por importantes setores do galeguismo já desde muito antes de a RAG existir, pudessem ser conhecidas por mais e mais galegos e galegas.

E com certeza que depois do 17 de maio continuaremos a lembrar e a reivindicar as ideias avançadas de quem foi primeiro Catedrático de Língua e Literatura Galega. Porque se algo se tem demonstrado durante estas décadas de lingüicídio é a vitalidade das ideias lingüísticas que Carvalho representa, ideias que teriam ajudado avançar a consciência nacional galega. De facto, trinta anos depois da sua morte, a história nom tem deixado nem um só dia de dar a razom a Carvalho. Ele já enxergou qual seria o futuro do galego se as cousas continuavam polo caminho que na altura começava a andar a política lingüística. Nom podemos deixar de sublinhar o nefasto e determinante apoio de entidades como a RAG e o próprio ILG àquela orientaçom da qual Carvalho Calero discordava.

Somos conscientes que a melhor homenagem a Carvalho nom virá das instituiçons, virá de nós, galegas e galegos, quando assumirmos e pratiquemos a sua coerente defesa da nossa língua. Fagamos realidade umha normalizaçom lingüística que nos dias de hoje nom existe.

Reclamemos que todas as instáncias públicas e privadas, que esse dia 17, como todos os anos, adornarám o dia com petiscos de galego os seus discursos ou as capas dos jornais, assumam realmente a necessidade de fazermos do nosso idioma, com mais de 1.200 anos às costas, a nossa língua principal todos os dias e em todos os ámbitos.

Porque Carvalho tinha razóm quando escreveu qual é o património que melhor nos define como galegas e galegos: o nosso idioma.

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