Opinión

Uma obra escandalosa

Soube há uns dias por uma nota da Iniciativa Galega pela Memória (IGM) que o Concelho de Vigo e a Deputação apoiam economicamente a construção duma magna escultura ao Sagrado Coração de Jesus na capela do monte da Guia de Vigo; um velho projeto franquista que quedou por construir pelo seu excessivo custo. Isto moveu-me de imediato a fazer uma rápida reflexão. Em primeiro lugar, ainda que a paróquia de Teis, à que corresponde a capela, e o bispado estejam implicados, essa megaescultura não semelha um serviço à fé cristã mas o contrário. O culto ao Sgdo. Coração é hoje um anacronismo e cousa duma época passada, na qual se utilizou essa imagem de Jesus Cristo como emblema de discórdia. Historicamente nasceu para fazer-lhe fronte ao laicismo de começos do s. XX, sobre todo pelo êxito da revolução soviética.

Como lembra bem a nota da IGM, em 1919 dentro dum marco reacionário, Alfonso XIII consagra Espanha ao Sgdo. Coração; e os golpistas do 36 utilizariam a avocação para justificar a sua cruzada contra os “ateus” republicanos. Vinheram-me à memória as palavras de Castelao: “Os clericaes poñian na casa unha efigie do Corazón de Xesús estampada en folladelata. Dentro do fogar vivian acochambados cos sete pecados capitais” (Sempre en Galiza, 196). Bem é certo que a minha e muitas famílias cristãs eram boa gente e não utilizaram politicamente a avocação. Segundo, penso que esse apoio do Concelho vigues forma parte não da fé cristã, mas da megalomania do seu alcalde. Dizia-me um amigo cura: “O mais importante é que tenha ao menos um metro mais que a torre de Hércules”.

Com muita razão Montse Fajardo falou aqui do “escândalo maiúsculo” que supôs o feito de que duas instituições presididas pelo PSOE destinem dinheiro público a uma imagem utilizada polo franquismo como símbolo de combate contra as ideias progressistas que teoricamente defendem e pelas que os perseguirom. E a IGM denuncia no seu comunicado a ignomínia que a obra supôs para as famílias das vítimas do franquismo. Terceiro, há hoje melhores maneiras de utilizar os mais de 100.000 euros públicos do seu custo.

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