Opinión

Um presidente contra a desigualdade

A eleição de Gustavo Petro como presidente de Colômbia significa realmente um fito histórico; não no tópico que se diz tantas vezes, mas verdadeiro. Como candidato do Pacto Histórico, levou a esquerda à presidência do país por primeira vez na história de Colômbia desde a sua independência, há duzentos anos (1819). Não foi só o feito de alcançar a esquerda a presidência, mas o de botar dela as poucas famílias que tiveram o poder nesses anos, com um partido ou outro, como me comentava há anos um colega na universidade de Bogotá vendo os apelidos dos presidentes.

Petro podia dizer com razão: "É uma vitória para o Povo e a sua história. É um dia de festa para o povo; que tantos sofrimentos se amorteçam na alegria que hoje ateiga o coração da Pátria". A sua vice-presidenta Francia Márquez –a  primeira mulher negra em chegar a esse posto; uma afroamericana, ativista ecofeminista que teve que abandoar por isso o seu território– engadia: "Imos erradicar o patriarcado e o racismo de Colômbia... pela paz, a dignidade e a justiça social".  Petro dedicou a vitória "aos irmãos/ãs líderes sociais tristemente assassinados no país, à mocidade e às mulheres violadas e desaparecidas".

A história de Colômbia é uma história de injustiça, repressão e violência, de assassinato das pessoas pobres e as trabalhadoras, camponesas e indígenas, sobretudo dos seus líderes e lideresas. Nos três anos que passei ali soube bem de tudo isto; soube de casos arrepiantes. Uma violência que era sobretudo institucional, num dos países mais desiguais do mundo; violência do exército, a polícia e, sobretudo, dos paramilitares mandados pelos grandes terratenentes.

Perdeu o antipetrismo. Fracassaram as acusações de perigoso guerrilheiro; quando o M-19 a que pertenceu foi a guerrilha mais pacífica de América Latina, que sofreu uma duríssima repressão por sair à luz e entrar na Assembleia da República. Atrás quedou também o complot da direita que acabara anos atrás com a sua alcaldia de Bogotá e o formoso projeto para humanizar esta megacidade: "Bogotá Humana". O seu maior reto será acabar com a fome e pobreza que não quer ver a orgulhosa burguesia bogotana. Oxalá poda fazê-lo.

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