Opinión

Um cura excêntrico e machista

O primeiro que me chamou a atenção do cura canário que lhe botou a culpa do assassinato das crianças de Tenerife por parte do seu pai à “infidelidade” da sua mulher, foi o seu jeito excêntrico de vestir: melena, clergiman amarelo (!) e uma pucha amarela; ao lado um moço negro. Um jeito entre “progre” e retro que chocava com as manifestações reacionárias com que saltou à imprensa. Porém, de seguida vi que, além dessa vestimenta estranha, a palavra mais adequada que lhe acaía era a de machista e patriarcal.

O “Padre Báez”, como é conhecido, qualificou de “assassinos” a todos os que criticávamos a Antonio Gimeno –o pai das cativas- por assassinar as crianças Anna e Olivia; e botou-lhe a culpa à mãe destas, Beatriz: “recolhe o que semeou”; “as meninas estariam vivas se o matrimónio não se tivesse roto”.

As declarações eram tão absurdas que, junto com as manifestações populares e antes dos milheiros de assinaturas recolhidas para que fosse expulso do seu cargo, o bispo de Canárias abriu-lhe um expediente qualificando as declarações de “mui desafortunadas” e de “ir contra a doutrina da Igreja”; pois para esta “não há motivo nem justificação para um crime vicário... O único culpável do ocorrido é o que matou”. O padre teve que abandonar aos poucos dias as suas paróquias.

Soube que estudara Filosofia em Sevilla, Teologia em Salamanca e mesmo História da Igreja em Madrid, publicara El camino del yoga e alguns livros mais. Chegou a ter o Prémio Patera 2007 pelas suas atividades com moços e imigrantes. Numa ocasião chegou a dizer que a Virgem não se apareceu em nenhum sítio, e em 2018 chegou a fotografar-se na paróquia com um grupo de drag queens... Mas também lhe negou a comunhão a alguém por casar-se pelo civil.

Um excêntrico. Porém, o que é mais grave, um machista perigoso como há bastantes nesta Igreja. Numa das minhas colunas o ano passado falei dum caso semelhante de outro cura muito mais novo na Galiza. Espero que o P. Báez não abusara também das crianças. De todos os jeitos, a justiça civil terá que atuar também aqui.

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