Opinión

Um cardeal que falava galego

Outra volta tivemos que celebrar uma Páscoa sem verdadeira festa. A Páscoa foi sempre a celebração por excelência da Igreja, muito mais que o resto das da Semana Santa, ainda que estas sejam mais vistosas e populares, pois é o triunfo da vida sobre a morte; sem ela não haveria cristianismo. Mas, se o ano passado quedamos sem poder celebrá-la nas comunidades, este ano tivemos que celebrá-la diminuída. Oxalá a do ano próximo poda ser uma verdadeira “Páscoa florida”.

Porém, nesta ocasião quero trazer a estas linhas uma gozosa lembrança: a do cardeal Quiroga Palacios (1900-1971), arcebispo de Compostela desde 1949 até o seu passamento e cardeal desde 1952. Foi membro destacado do Concílio Vaticano II; e dois anos depois de rematar este, em 1967, deu a sua primeira Missa em galego na inauguração da igreja paroquial de Aguiño (Ribeira), consequente com a revolução na liturgia que pedia celebrar nas línguas vernáculas.

Don Fernando amava o galego e a Galiza; era muito amigo de Otero e teve boas relações com os galeguistas do seu tempo. Por isso, não é de estranhar que aparecesse na correspondência de Don Ramón com Carvalho Calero, da qual falei na anterior coluna. Em carta deste a Otero escreve: “Recibin unha invitación para os actos de Padrón [a inauguração da estátua de Rosalía]... Piñeiro escribiume que o cardeal pronunciou unhas verbas en galego” (28/04/1957). Piñeiro escrevera-lhe: “A inauguración resultou impresionante pola inmensa cantidade de pobo que acudiu. Estaban tamén as autoridades... Otero pronunciou o seu discurso en galego... A continuación o cardeal rezou un padrenuestro por Rosalia e outro polos galegos mortos na emigación. Cando rematou, dixo estas palabras en galego: ‘E agora sabede, irmaos, fillos de Galicia, que Rosalia está un pouco mais contenta’. Sería, supoño, a primeira vez que un cardeal da Eirexa falou publicamente en galego. Rosalia fixo ese milagro”.

Seguramente está no certo. Mas o seu exemplo não se propagou nos seus sucessores; o outro arcebispo e cardeal galego de Compostela, Rouco Varela, nem amou o galego nem se levou bem com os galeguistas.

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