Opinión

Rujú Saib

Algum leitor topará estranho o título da coluna desta semana; mas os conhecedores da literatura da geração Nós cairiam na conta de que estou a falar de Vicente Risco. Rujú Saib é um dos seus pseudónimos, que traio agora aqui porque o topei recentemente nuns versos do último poemário de Cesáreo Sánchez Iglesias "A árbore que dá as lagrimas de Shiva". Um deles tendo seguramente presente uma conhecida foto de Risco: "O poeta Rujú Saib medita en posición de loto"; noutro verso o poeta está "na biblioteca de Rujú Saib".

Na realidade, Risco só usou este pseudónimo um par de vezes em artigos seus no diário ourensano El Miño. Mas é sabido da sua admiração por Rabindranath Tagore –sobre quem tem dado conferências em Ourense e Madrid– e o pensamento oriental. Publicou vários artigos onde reflete isto: em El Miño, "Sueño lejano", já em 1909, e outros; e em Nós, "Do Futurismo e máis do Karma" (1926) e o seu ensaio referencial "Nós os inadaptados" (1933). Mas também livros como El oriente contado con sencillez (1955; versão galega Historia de Oriente contada de xeito sinxelo, 2022). Mesmo chegou a publicar em El Miño fragmentos do "Mahabharata", a grande epopeia hindu.

Risco reconhecia na Índia uma espiritualidade necessária, ainda palpável e latente ali. Por isso, achegou-se ao hinduísmo e ao budismo, e também ao taoísmo, à literatura japonesa e a todo o pensamento oriental; e mesmo iniciou-se no sânscrito e nos hieróglifos. "Em mais duma ocasião ouvi-lhe dizer –conta o seu filho Antón Risco– que se não fosse católico far-se-ia buddhista".

O amigo Felipe Senén tem estudado esta dimensão orientalista de Risco (veja-se, entre outros artigos seus "Orientalismo, celtismo, obsesión de Vicente Risco" (Sermos Galiza), que estaria conectada com o priscilianismo e com a tradição celta ária indo-europeia. Um panceltismo que não teria que ver com o espírito ário do nazismo, mas com uma busca da dimensão espiritual, na qual conetava a tradição do panteísmo celta e a tradição cristã, fundamente ligadas nos começos da nossa cultura.

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