Opinión

Rosalía crente

U no-me fervorosamente ás celebrações rosalianas desta semana, para que Rosalia não siga sendo “estrangeira na sua pátria” -como repete Paco Rodriguez-, se faça justiça à cantora do povo galego oprimido e alcance a influencia e valoração que merece no seu país.

Fago-o salientando um aspecto contestado e mesmo rejeitado por alguns estudiosos modernos de Rosalia: a sua dimensão crente-religiosa. Quando se diz que nem Castelao nem Rosalia eram crentes-religiosos, não se tem em conta a fundo os seus textos; estes som expressão dumas conceições cristãs profundas, ainda que justamente críticas coas instituições eclesiásticas do seu país e as suas posturas excluintes.

Já tenho falado aqui da dimensão religiosa de Castelao, hoje quero dizer umas poucas palavras sobre a nossa poeta nacional. E não para assumir a manipulação da “santinha” com uma recatolizaçao dela como fiz Herrera Garrido, mas para fazer justiça à sua fé funda e crítica. “Rosalia viveu dentro da comunidade cristã galega. Pero nessa comunidade cristã sentiu-se desvalida”, escreveu há já décadas Xosé Alvilares (¿Proceso a la Iglesia gallega?).

Rosalia era uma mulher dolorosamente religiosa e fundamente cristã, como quedou refletido sobre todo em Follas novas e En las orillas del Sar. As vezes as sus verbas são expressão do que a teologia chama o “silencio de Deus”, pois o encontro com ele é sempre precário e escuro, mas não um rechaço de Deus. Assim ocorre nestes versos de Follas novas: “Por que em fin, Dios meu/ a un tempo me faltan/ a terra e o ceu?”; “¡Señor! ¡Dios do ceo! / ¿Por qué hai almas tan negras e duras? / ¿Por qué hai orfos na terra, Dios boeno?”. 

Assim o expressam também estes versos de En las orillas del Sar: “Pobre alma, espera y llora a los pies del Altísimo”; e na morte dum filho: “Algo ha quedado tuyo en mis entrañas/ que no morirá jamás,/y que Dios, porque es justo y porque es bueno, a desunir ya nunca volverá”. En, fim, o remate genial de “Santa Escolástica”, “orando y bendiciendo al que es todo hermosura”: “¡Hay arte! ¡Hay poesía…! Debe haber cielo. ¡Hay Dios!”. 

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