Opinión

Queer (2)

A semana passada falava da teoria e o movimento queer a teor das mobilizações do coletivo LGTBI+ em dias anteriores, relacionando-o com uma identidade que não se corresponde com as normas estabelecidas da heterossexualidade.

Mas que é queer? Não é fácil defini-lo. Beatriz Suaréz, galega especialista no tema, diz num dos seus trabalhos: "Definir queer não é doado, e mesmo pode considerar-se o mais antiqueer que existe"; mas logo precisa: "Não é simplesmente gai nem lesbiana, pero não há queer sem pensamento ou consciência radical sobre o sexo, o género, a sexualidade", (Galicia 21). E noutro trabalho escreve: "Feministas lesbianas queers de toda classe e condição somos a herdança duma tradição de movimentos contraculturais de libertação que vão xurdir a partir da metade do século XX: pacifismo, antirracismo, anticolonialismo, movimento feminista e LGTBI... O programa fundamental destes últimos foi fazer das mulheres, as lesbianas e os gais suxeitos politicos", (Investigaciones Feministas).

Deste jeito, queer está vinculado em primeiro lugar a questões de género, como crítica radical a uma única identidade legítima: a heterossexual dual, que afirma que essa é a única "boa" (normal, sã) e as demais são "malas" (patológicas, desviadas); e o direito a ter e viver uma sexualidade/afetividade diferente da estabelecida e mesmo imposta violentamente, poder ser homo, hétero ou o que seja. Particularmente, queer é uma dura crítica aos privilégios de género patriarcais, mas também de preferência sexual exclusiva. Mas, ademais, queer tem que ver com um pensamento e uma linguagem que afirma a diferença, que se construe desde as diferenças. "Pensamos queer, fazemos queer", dizem.

Os seres humanos somos diferentes; as múltiplas diferenças sexuais, culturais e mesmo religiosas ou não religiosas enriquecem-nos. Somos iguais e somos diferentes a um tempo. A realidade só é uniforme nos quartéis, sob um único mando e hierarquia indiscutível; e isso só porque os exércitos são mais eficazes para ganhar as guerras se os bandos estão uniformados e são obedientes às ordens e tácticas dos seus mandos. Porém, o mundo não é um quartel, ainda que alguns o pretendam.

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