Opinión

Quarta-feira

Esta coluna aparece no Diario cada quarta-feira; denominação com a qual pode que a mais dum leitor lhe custe saber o dia da semana do jornal. Tal vez não devera ser assim. Hai mais de dois anos, com ocasião duma campanha da Mesa pela Normalização Linguística (“Nós feiramos de 2ª a 6ª”) eu publicava um artigo en Sermos Galiza no qual começava dizendo: “¿Por que en canto cruzamos a raia do Miño escoitamos chamarlle aos días da semana segunda-feira, terça-feira, quarta-feira... no canto de luns, martes, mércores...?”.

Reconhecia que –com honrosas excepcões– na maior parte da Galiza, em lugar de chamar aos dias laborais como os irmãos portugueses, fazemo-lo como os espanhóis, os franceses e os italianos. Nestes países nomearam-se os dias da semana com os nomes que lhes deram os romanos nos tempos do Império: os dos velhos deuses Lunae dies (Lúa), Martis (Marte), Mercurii (Mercurio), Jovis (Jupiter), Veneris dies (Venus).

Pelo contrário, os irmãos portugueses nomeiam os seus dias doutro jeito: segundo o fez Martinho de Dume, um bispo galego do s. VI. Bispo ao qual tenho certa aversão por ser o enterrador do priscilianismo nos Concílios I (561-563) e II (572) de Braga; mas que é uma figura de importância capital na história da cultura e da língua galego-portuguesa desde o seu mosteiro de Dume, perto de Braga.

Na sua obra De correctione rusticorum considera indigno que os bons cristãos continuem a chamar os dias da semana segundo os nomes pagãos citados. E propôs usar a terminología eclesiástica cristã feria (dia de): Feria secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta, Feria sexta, Sabbatum Dies e Dominica Dies. O bispo realiza uma rotunda defesa do domingo como dia de descanso, para santificar o dies Domini, dia do Senhor Jesus. A nova terminologia passou a ser empregada por parte da sociedade após o I Concílio de Braga. Essa tradição continuaria a nível popular em Portugal e parte de Galiza; e oficialmente no Reino independente de Portugal desde o século XII.

Será agora o momento de ir-se afazendo a nomearmos todos os galegos os dias da semana com estes nomes também tão nossos? Pode ser outro elemento importante para unir-nos mais ao nossos vizinhos e aos países lusófonos.

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