Opinión

Pasmoneria real

Nos dias passados, muitos quedamos fartos do espaço e o tratamento nos informativos, sobretudo televisão e rádio, dos fastos arredor da morte da rainha de Inglaterra; e ao mesmo tempo sentimos a ausência de crítica nesses meios e noutros "independentes". Por isso, alegrou-me escutar como no Congresso dos Deputados Aitor Esteban, porta-voz do grupo do PNV, manifestava estar também farto de que o "papanatismo de los royals" monopolizara a informação quando havia casos tão graves que tratar no país. Eu lembrava o que escrevera Castelao em Sempre em Galiza de que os nacionalistas conservadores bascos vieram ser mais de esquerdas que os laboristas britânicos.

Logo vi na Internet que havia manifestações muito críticas de Isabel II e o seu longo reinado. Particularmente dos povos do sul, que padeceram duramente a opressão do império colonial, que presidiu com mão de ferro amparando tantos episódios de terror nesses anos. "Foi a soberana dum império genocida de ladrões e violadores", escreveu alguém. Em América com tristes histórias como o massacre nas Malvinas argentinas, em África -onde um partido sudafricano manifestou: "Não choramos pela morte de Elizabeth, pois para nós é a lembrança dum império trágico para o nosso país e para África"-,  ou em Austrália, onde grupos nativos declararam: "Hoje choramos todas as vidas violadas, traumatizadas e destruídas ao longo do império de Elizabeth II".

Mas vi também como eram reprimidas pela polícia manifestações em Londres e Edimburgo de britânicos críticos com a rainha e com a monarquia. Mesmo alguns escoceses e irlandeses celebraram com champagne a sua morte; como aqui fizeram muitos com a de Franco, além das filas para passar ante o seu cadaleito, pois não esqueceram a morte que deixavam trás de si esses oligarcas.

Como noutras ocasiões, dá-me pena ver essa pasmoneria do povo ante uma instituição que se aproveita dele, econômica –a rainha chegou a ter uma das maiores fortunas britânicas- e socialmente. O deslumbramento dos seus fastos não deixa ver a podrémia que há trás desses oropéis.

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