Opinión

O vulcão

A s imagens abraiantes e devoradoras do vulcão e o drama que está a viver a ilha canária da Palma, golpeou-nos com força a qualquer com um mínimo de sensibilidade e fraternidade. 

O primeiro e o mais importante é o drama dos milheiros de pessoas despraçadas e as pero das cincocentas casas destruídas, com as suas vidas literalmente engolidas pela lava do vulcão, ainda que não houvesse mortes. Sobretudo, as de economias dos mais débeis, que perderam tudo o que tinham, a casa e o meio de ganhar a vida; ainda que nos dera também pena ver como formosos e luxosos chalés eram destruídos. Por isso, o primeiro é a atenção solidária não só dos vizinhos, mas também das instituições locais, estatais e dos seguros, e ainda da gente de longe. Por isso, cumpre-me dizer aqui o imoral que me parece converter este drama num espetáculo turístico, alheio ao sofrimento dos danificados; e, para mais INRI, ocupando esses turistas as praças hoteleiras que deviam ser para eles, mentres não se lhes dê outras soluções a mais longo prazo.

Mas, logo, surgem-me outras reflexões. Dá-me em pensar na força na natureza, um ser vivo em contínua transformação, e a força da ordem-desordem do cosmos; um “caocosmos” com uma “desintegração organizadora”, no qual devemos navegar num “oceano de incertezas a través duns arquipélagos de certezas”, como diz genialmente Edgard Morin, o pai da complexidade; certezas pequeninhas... Esse imenso cosmos de que fazemos parte como uma diminuta partícula de vida; no qual a nossa impotência se manifesta sobretudo ante fenómenos naturais como este do vulcão, ou os tifões, as riadas, os tsunámis, etc.

Ante eles, derruba-se o nosso orgulho e a nossa prepotência humana que se crê dona e senhora. Cremo-nos donos do nosso futuro, assentados nos nossos logros, seguros das nossas possissões; e de súbito, um feito como este rompe-nos todas as nossas certezas. Faz-nos cair na conta de que uma vida humana vale mais que todas as possissões, mas que esta vida também é muito frágil. Feitos assim podem levar-nos ao sentimento de que há uma vida, uma energia no interior do cosmos, ¿uma Inteligência?, ante a que cumpre agoelhar-se em silêncio, humildemente (de humus, terra).

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